29.12.11

Se façam deprecações, orações, intercessões, e acções de graças, por todos os homens


Devemos orar pelos incrédulos e por aqueles que nos perseguem

Paulo disse a Timóteo: "Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e acções de graças, por todos os homens; pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade" (1 Tim. 2:1-4).

Irmãos, nós que conhecemos Deus mediante Cristo Jesus estamos em obrigação de orar pelos que ainda não conhecem a verdade, para que Deus os salve pela sua graça. O apóstolo Paulo, falando dos Judeus de nascença, disse aos santos de Roma: "Irmãos, o bom desejo do meu coração e a oração a Deus por Israel é para sua salvação" (Rom. 10:1); destas suas palavras se compreende claramente que Paulo tinha um desejo em seu coração, um bom desejo devemos dizer, que era o de os Judeus serem salvos. A Escritura diz que "o desejo dos justos é tão somente para o bem" (Prov. 11:23), e de facto os que foram justificados pela graça de Deus desejam o bem dos incrédulos, porque desejam que eles sejam salvos; eles têm no seu coração o mesmo desejo que tinha Paulo pelos Judeus. Mas Paulo, além de dizer que tinha este desejo, disse também que ele orava a Deus pelos Judeus para a sua salvação. Ora, os Judeus pelos quais orava Paulo eram sim aqueles Judeus que tinham "a forma da ciência e da verdade na lei" (Rom. 2:20), mas tinham também sobre os seus corações um véu que os impedia de reconhecer que Jesus de Nazaré era aquele do qual tinham falado Moisés e os profetas, isto é, o Cristo. O Evangelho, para aqueles Judeus que estavam sobre o caminho da perdição, estava encoberto porque o deus deste século lhes tinha cegado os entendimentos; Paulo, isto o sabia bem, e como ele também sabia que aquele véu seria removido de cima dos seus corações só quando eles se convertessem ao Senhor, assim ele orava ardentemente por eles para que Deus revelasse também a eles o seu Filho. Paulo, nisto, nos deixou o exemplo, para que nós também oremos pelos incrédulos, por aqueles que estão sobre o caminho da perdição, para que eles sejam libertados do poder de Satanás. O clamor que nós crentes devemos fazer chegar aos ouvidos do nosso Deus em favor dos incrédulos deve ser este: ‘Senhor, salva-os!’.

Jesus Cristo disse: "Orai pelos que vos maltratam e vos perseguem" (Mat. 5:44); mas quem são os que nos maltratam e nos perseguem? Eles são todos os que não conhecem Deus e que na sua ignorância nos ultrajam e nos fazem mal, por causa do bom nome de Jesus Cristo que é invocado sobre nós. Ora, quero dizer-vos antes de tudo que os que creram não podem não sofrer perseguições por parte dos incrédulos, porque Jesus disse: "Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós" (João 15:20), e porque Paulo disse a Timóteo que "todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições" (2 Tim. 3:12). Disse anteriormente que os nossos perseguidores nos perseguem na sua ignorância, porque Jesus disse aos seus discípulos: "Vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus. E isto vos farão, porque não conheceram ao Pai nem a mim" (João 16:2,3); dizei-me: ‘Saulo de Tarso não perseguia porventura os santos em Jerusalém e até nas cidades estrangeiras porque não conhecia ainda nem Deus e nem o seu Filho?’ Certo, por esta razão ele encerrou nas prisões muitos dos santos e quando os matavam (pensando estar a fazer um serviço a Deus), ele dava o seu voto. Ele mesmo disse a Timóteo: "Dantes fui blasfemo, e perseguidor, e opressor; mas alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade" (1 Tim. 1:13), isto significa que Saulo de Tarso antes de o Senhor lhe aparecer no caminho de Damasco, era também ele um incrédulo e por isso não conhecia Deus. Ele era um Fariseu que embora fosse irrepreensível quanto à justiça que está na lei e embora fosse extremamente zeloso pela causa de Deus, era cego e sem vida porque não cria no nome do Filho de Deus; mas chegou o dia em que Aquele que o tinha separado desde o ventre de sua mãe o chamou pela sua graça e o justificou. Eu estou convencido que enquanto Saulo de Tarso era ainda um perseguidor da Igreja e um opressor, haviam os que oravam também por ele para que o Senhor o salvasse, e isto o digo por esta razão; Jesus, antes de ascender ao céu, tinha dito aos apóstolos: "Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado" (Mat. 28:19,20), portanto os apóstolos deviam ensinar aos crentes também a orar por aqueles que os perseguiam, e sabendo que eles o fizeram, cheguei à conclusão que os crentes que atendiam aos seus ensinamentos, obedeceram também a esta ordem do Senhor. Eis o que Paulo diz que aconteceu, quando ele se converteu ao Senhor: "Mas somente tinham ouvido dizer (a igreja da Judeia): Aquele que já nos perseguiu anuncia agora a fé que antes destruía. E glorificavam a Deus a respeito de mim" (Gal. 1:23,24). Como podeis ver a conversão de Saulo produziu abundância de acções de graças a Deus por parte de muitos crentes; ainda hoje, quando é atendida uma oração feita a Deus por um perseguidor da Igreja o nome de Deus é glorificado pelos santos, por isso oremos pelos nossos perseguidores, para que o nome de Deus seja glorificado quando eles se converterem. Jesus Cristo orou por aqueles que o perseguiram até à morte (dando-nos assim o exemplo), de facto enquanto estava pendurado na cruz disse: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lucas 23:34); Jesus invocou o perdão de Deus sobre os que o perseguiram e o levaram à morte na sua ignorância (isto é, sem saber o que faziam). Nós, algumas vezes, somos tentados a pensar que os Judeus sabiam o que faziam contra Jesus, mas nós sabemos que não é assim, porque também Pedro confirmou o que disse Jesus, quando disse aos Judeus: "Vós negastes o Santo e o Justo, e pedistes que se vos desse um homem homicida. E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dentre os mortos.... E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos príncipes" (Actos 3:14,15,17). Como podeis ver, sejam as palavras de Jesus como as de Pedro confirmam que os nossos inimigos nos perseguem por causa da ignorância que está neles. Nós filhos de Deus devemos orar a Deus pelos nossos inimigos que nos perseguem, para que Deus lhes deia a vida e não para que Deus os faça morrer. Alguém dirá: ‘Mas então porque é que debaixo da lei houveram homens, como Davi por exemplo, que oraram a Deus para que destruisse os seus inimigos?’; vede, debaixo da lei, vigorava o preceito que dizia: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo; isto o confirmou Jesus mesmo, quando disse aos seus discípulos: "Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo" (Mat. 5:43; Lev. 19:18), portanto não há porque nos maravilharmos se Davi, sendo contudo um homem segundo o coração de Deus, quando orava a Deus pelos seus inimigos, dizia: "Sobrevenha-lhe destruição sem o saber. Derrama sobre eles a tua indignação. Emudeçam na sepultura" (Sal. 35:8; 69:24; 31:17). Mas  agora, debaixo da graça, vigora o mandamento que diz: "Amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem" (Mat. 5:44), portanto não é admissível que um filho de Deus peça a Deus a morte dos seus inimigos. Contudo, também debaixo da lei houveram homens que oraram pelos seus adversários; um destes foi Moisés. A Escritura diz que depois que tornaram ao arraial os doze espiões que Moisés tinha enviado a espiar  a terra de Canaã, os Israelitas, ouvindo dizer, os doze dela: "A terra, pelo meio da qual passamos a espiar, é terra que consome os seus moradores; e todo o povo que vimos no meio dela são homens de grande estatura. Também vimos ali gigantes, filhos de Anaque, descendentes dos gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos, e assim também éramos aos seus olhos... Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós" (Num. 13:32,33,31), murmuraram contra Moisés e Arão e falaram em apedrejá-los. Quando Deus ouviu proferir aquelas murmurações disse a Moisés: "Com pestilência o (o povo de Israel) ferirei, e o destruirei... " (Num. 14:12), mas Moisés orou a Deus por aqueles incrédulos que o queriam apedrejar (conforme está escrito: "Moisés, seu escolhido, ficado perante ele na brecha, para desviar a sua indignação, a fim de os não destruir" [Sal. 106:23]); ele dirigiu esta súplica a Deus em favor do povo de Israel: "Perdoa, pois, a iniquidade deste povo, segundo a grandeza da tua benignidade; e como também perdoaste a este povo desde a terra do Egipto até aqui" (Num. 14:19), e Deus o ouviu, de facto lhe disse: "Conforme à tua palavra lhe perdoei" (Num. 14:20). O que fez Moisés nos ensina quanto é útil a oração dirigida a Deus em favor dos que nos perseguem; a gente que não conhece Deus diz: ‘Que ganharemos em orar a Deus?’, mas nós que conhecemos Deus sabemos que é útil orar a Deus também por aqueles que nos perseguem porque está escrito: "O que teme o mandamento (neste caso, aquele que diz: "Orai pelos que vos perseguem" [Mat. 5:44] será galardoado" (Prov. 13:13).

Devemos orar pelas autoridades ordenadas por Deus

Entre todos os homens pelos quais nós crentes devemos orar, estão também as autoridades que Deus ordenou. Deus disse aos Israelitas que tinham ido em cativeiro para a Babilónia: "Procurai a paz da cidade, para onde vos fiz transportar e orai por ela ao Senhor porque na sua paz vós tereis paz" (Jer. 29:7); destas palavras se compreende que nós crentes devemos procurar a paz e o bem das nações nas quais Deus nos faz viver. Alguém dirá: ‘De que maneira o se pode fazer?’ O podemos fazer nos submetendo às ordens das autoridades e orando pelas autoridades que Deus constituiu na nação em que vivemos. Nós desejamos viver uma vida tranquila e sossegada no meio desta nação, e que as autoridades façam boas e justas reformas em prol dos países em que vivemos (das quais, também nós, ainda que peregrinos e forasteiros, possamos receber o bem), mas sabemos que para ver este nosso desejo cumprido devemos orar pelas autoridades.

No livro de Esdras está transcrito a ordem que o rei Dario deu ao governador de além rio e aos seus companheiros relativamente ao seu modo de proceder com os anciãos dos Judeus que reconstruiam o templo em Jerusalém; ele dizia entre outras coisas: "E o que for necessário como bezerros, e carneiros, e cordeiros, para holocausto ao Deus dos céus, trigo, sal, vinho e azeite, segundo o rito dos sacerdotes que estão em Jerusalém, dê-se-lhes, de dia em dia, para que não haja falta; para que ofereçam sacrifícios de cheiro suave ao Deus dos céus, e orem pela vida do rei e de seus filhos" (Esd. 6:9,10); este rei, como podeis ver, queria que os sacerdotes orassem pela sua vida e pela dos seus filhos, e eu estou convicto que também nesta geração os reis e todas as autoridades ordenadas por Deus necessitam das nossas orações. Nós podemos ajudar as autoridades a cumprir o seu trabalho de modo justo com as nossas súplicas em seu favor, portanto oremos por eles, antes de tudo para que sejam salvos por Deus, mas também para que Deus os proteja e lhes conceda sabedoria para governar.

Oremos uns pelos outros, aprendendo com Cristo e com os apóstolos

Além de orar a Deus por aqueles que ainda são escravos do pecado, e por aqueles que nos perseguem, e pelos reis e pelas autoridades, nós devemos interceder junto do trono de Deus pelos nossos irmãos porque Deus quer que façamos também isto. Alguém dirá: ‘Mas o que devo pedir a Deus pelos meus irmãos?’ Dirijamo-nos à sagrada Escritura que é divinamente inspirada, porque ela nos instrui também sobre isto.

Jesus Cristo, o nosso Senhor, na noite em que foi traido orou a seu Pai pelos seus discípulos (os seus irmãos, conforme está escrito: "Não se envergonha de lhes chamar irmãos" [Hebr. 2:11]), e entre as palavras que Ele dirigiu a Deus por eles, estão estas: "Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós...Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal... Santifica-os na verdade" (João 17:11,15,17). Jesus pediu a Deus para fazer coisas que eram segundo a sua vontade para com os seus irmãos; ora, Deus quer livrar-nos do mal. Ele quer santificar-nos na verdade, e quer também guardar-nos em seu nome para que sejamos perfeitos na unidade tendo um mesmo parecer e um mesmo falar, portanto faremos bem também nós em pedir a Deus estas coisas pelos nossos irmãos. A Escritura diz que "se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve" (1 João 5:14) e a oração feita pela unidade da irmandade é feita segundo a vontade de Deus e é ouvida, e para confirmar-vos isso vos recordo que a oração que Jesus fez por aqueles que creriam nele por meio da palavra dos apóstolos, para que fossem um (conforme está escrito: "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós" [João 17:20,21]) foi ouvida, porque no livro dos actos dos apóstolos lêmos que "era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns" (Actos 4:32).

O Senhor Jesus na noite em que foi traido, disse a Pedro: "Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos" (Lucas 22:31,32); o Senhor sabia o que aconteceria dali a pouco; ele sabia que quando o pastor fosse ferido, as ovelhas se dispersariam, ele sabia que os seus discípulos seriam provados, e por isso tinha orado por Simão Pedro, para que a sua fé não desfalecesse. Foi ouvida esta oração? Sim, de facto, apesar de Pedro pouco depois ter negado o Senhor, por bem três vezes, a sua fé não desfaleceu, porque ele se converteu e foi capaz de confirmar os seus irmãos. Nós também devemos orar pelos nossos irmãos que são provados no crisol das aflições, para que a sua fé não desfaleça. Vejamos agora como oraram os apóstolos pelas igrejas, porque eles nos deixaram um exemplo também nisto. Paulo escreveu aos santos que estavam em Éfeso: "Não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações; para que Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação; tendo iluminados os olhos do vosso coração, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos; e qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos" (Ef. 1:16-19); Paulo, nesta oração, orava a Deus para que concedesse aos fiéis daquela cidade, um espírito de sabedoria e de revelação por meio do qual podiam conhecer melhor Deus; para que iluminasse os olhos dos seus corações (o nosso coração tem olhos espirituais que quando são iluminados por Deus nos levam a um conhecimento mais profundo do desígnio benévolo que Deus antes dos séculos formou e que cumpriu na plenitude dos tempos, e das coisas que Deus preparou para nós que o amamos), para que eles soubessem estas três coisas; a qual esperança Deus os tinha chamado, quanto era gloriosa a herança que Deus preparou para eles e que estava guardada também para eles nos lugares celestiais, e quanto era imenso o poder de Deus para conosco que cremos.

Na mesma epístola aos Efésios Paulo escreveu: "Me ponho de joelhos perante o Pai... para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus" (Ef. 3:14,16-19); nesta oração, Paulo orava a Deus para fortalecer aqueles santos no seu homem interior (cada um de nós tem um homem interior, além de um homem exterior), e para fazer que Cristo habitasse pela fé nos seus corações, e logo depois, diz as razões pelas quais pedia a Deus aquelas coisas, escrevendo: "a fim de.. poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus" (Ef. 3:18,19). Irmãos, será bom que ponhamos muita atenção em todos estes ‘a fim de’ presentes nas orações de Paulo porque eles nos fazem perceber o que Paulo desejava que os irmãos soubessem e fizessem.

Vede, o desejo de Paulo era o de apresentar todo o homem perfeito em Cristo, e este ardente desejo que estava nele o impulsionava a levantar estas orações a Deus em favor dos crentes. Hoje, é muito raro ouvir crentes orar por outros crentes da maneira em que orava Paulo, porque muitos preferem apenas ler e estudar estas orações, em vez de fazê-las; eu considero que se Paulo considerava útil pedir a Deus aquelas coisas, também nós devemos ter em nós o mesmo sentimento que estava nele.

Paulo escreveu aos santos de Colossos o que ele e os seus cooperadores pediam a Deus por eles. Eis o que ele escreveu: "Não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar como dignos do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra e crescendo no conhecimento de Deus; corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da sua glória, em toda a paciência, e longanimidade com gozo; dando graças ao Pai que nos fez idóneos para participar da herança dos santos na luz" (Col. 1:9-12). Irmãos, sabei que também nós, necessitamos de ser cheios do profundo conhecimento da vontade de Deus a fim de andarmos como dignos do Senhor, portanto oremos uns pelos outros desta maneira. Ora, Jesus Cristo disse: "A vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia" (João 6:40), e nós tendo crido no Filho de Deus fizemos a vontade de Deus, mas a vontade de Deus para conosco não acaba aqui porque existem muitas outras coisas que fazem parte da vontade de Deus, que nós devemos fazer para agradar a Deus. Mas para fazê-las, devemos primeiro conhecê-las, e para conhecê-las devemos orar a Deus; esta é a razão pela qual devemos pedir a Deus de nos encher e de encher os nossos irmãos do conhecimento da vontade de Deus. Alguém dirá: ‘Mas é mesmo necessário?’ Sim, irmão, é necessário, doutra forma Paulo e os seus cooperadores não teriam orado por aqueles irmãos desta maneira. Algum outro dirá: ‘Mas porque devo ser cheio do conhecimento da vontade de Deus?’; pois bem, a razão é para que tu andes de modo digno do Senhor, para agradar-lhe em todas as coisas. Nós devemos agradar a Deus e não aos homens, e é por isso que devemos procurar andar como dignos do Evangelho de Cristo, não dando motivo de escândalo em coisa alguma, para que o nome do Senhor Jesus Cristo não seja vituperado e a sua doutrina não seja blasfemada; nós não queremos que a gente do mundo, ao vêr-nos andar como loucos (privados do conhecimento da vontade de Deus), diga: ‘No fundo no fundo não sois diferentes de nós’, ou até: ‘Vós dizeis ser Cristãos, mas sois piores do que nós’. Nós, portanto, para agradar a Deus devemos entender qual seja a sua vontade para conosco; mas se não entendemos qual seja a sua vontade, se não conseguimos distinguir o bem e o mal, e participamos nas obras infrutuosas das trevas, como faremos para agradar a Deus? Irmãos, sabei que se andais segundo a carne, vós não podereis agradar a Deus, porque está escrito: "Porque a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto os que estão na carne não podem agradar a Deus" (Rom. 8:7,8). Nós não podemos agradar a Deus se nos tornamos amigos do mundo e amantes do mundo. Se ao invés estamos  prontos para fazer toda a boa obra, se crescemos no conhecimento de Deus, se nos fortalecemos na sua graça, se mostramos aos homens a mansidão de Cristo, se somos pacientes nas aflições, dando continuamente graças a Deus por nos ter feito idóneos para participar da herança dos santos na luz, então agradaremos a Deus e o seu nome será glorificado em nós.

O apóstolo Paulo, ainda na carta aos Colossenses, escreveu: "Porque quero que saibais quão grande combate tenho por vós, e pelos que estão em Laodicéia, e por quantos não viram o meu rosto em carne; para que os seus corações sejam consolados, e estejam unidos em amor, e enriquecidos da plenitude da inteligência, para chegar ao completo conhecimento do mistério de Deus-Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência" (Col. 2:1-3); estas palavras nos fazem perceber que quando se ora pelos irmãos se luta por eles, e que não se deve orar só por aqueles irmãos que se conhece pessoalmente, mas também por aqueles de que nunca vimos o rosto. Mas porque é que Paulo combatia nas suas orações pelos santos? Ele combatia por eles para que os seus corações fossem consolados, para chegar ao completo conhecimento do mistério de Deus; notai que também nesta oração, Paulo pedia a Deus pelos santos alguma coisa que os levaria ao pleno conhecimento de alguma coisa de particular.

Também Epafras, cooperador de Paulo, orava pelos Colossenses, e Paulo deu testemunho disso na epístola que lhes escreveu, dizendo: "Saúda-vos Epafras, que é dos vossos, servo de Cristo, combatendo sempre por vós em orações, para que vos conserveis firmes, perfeitos e completos em toda a vontade de Deus" (Col. 4:12); estas palavras confirmam que quando se ora pelos irmãos se combate por eles. Epafras lutava nas suas orações para que os santos de Colossos permanecessem firmes em toda a vontade de Deus. O que fazia este cooperador de Paulo por aqueles irmãos nos serve de exemplo, portanto irmãos, combatei também vós pelos santos empunhando a arma da oração.

Paulo disse aos Coríntios: "Eu rogo a Deus que não façais mal algum" (2 Cor. 13:7); desta oração que Paulo e os seus cooperadores faziam pelos fiéis se percebe como os apóstolos desejavam que os santos se santificassem e se abstivessem de toda a espécie de mal. Também nós devemos orar pelos nossos irmãos para que não façam mal algum.

Eis como orava Paulo pelos santos de Filipos: "E isto peço em oração: que o vosso amor aumente mais e mais no pleno conhecimento e em todo o discernimento, para que aproveis as coisas excelentes, a fim de que sejais sinceros, e irrepreensíveis até o dia de Cristo; cheios do fruto de justiça, que vem por meio de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus" (Fil. 1:9-11). Irmãos, o nosso amor deve abundar em conhecimento e em todo o discernimento, se queremos ser capazes de distinguir entre o bem e o mal e ser achados sinceros e irrepreensíveis na vinda do Senhor. Ora, se alguém considera boa esta específica oração de Paulo, chega à conclusão que também hoje há necessidade de orar pelos irmãos desta maneira. Porque digo isto? Porque hoje, o amor em muitos escasseia seja de conhecimento seja de discernimento. Quando se fala de amor com alguns crentes, apercebemo-nos como o seu amor não abunda nem em conhecimento e nem em discernimento, por isso é necessário orar a Deus para que supra a esta sua necessidade. Não é dificil encontrar crentes que pensam que repreender um irmão quando peca significa ter pouco amor por ele, ou para os quais, tolerar os maus obreiros e as suas más acções é uma demonstração de amor por eles e pela a igreja. Mas a Escritura não ensina isto, mas ensina que "a caridade…não folga com a injustiça" (1 Cor. 13:6) e que Deus que é amor, repreende e castiga.

Aos santos de Tessalónica, Paulo escreveu: "Pelo que também rogamos sempre por vós, para que o nosso Deus vos faça dignos da sua vocação, e cumpra todos os vossos bons desejos, e a obra da vossa fé com poder; para que o nome de nosso Senhor Jesus Cristo seja em vós glorificado, e vós nele, segundo a graça de nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo” (2 Tess. 1:11,12); irmãos, oremos também nós pelos santos para que Deus cumpra com poder todos os seus bons desejos e opere dentro deles o que a ele é agradável.

Aos fiéis da Galácia que tinham sido perturbados por alguns que queriam que eles fossem circuncidados na carne e que observassem a lei, Paulo escreveu: "Como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco...Meus filhinhos, por quem de novo sinto dores de parto, até que Cristo seja formado em vós; eu bem queria agora estar presente convosco, e mudar a minha voz; porque estou perplexo a vosso respeito" (Gal. 4:9-11,19,20). Os crentes da Galácia tinham sido gerados em Cristo Jesus por Paulo, mas na sua ausência tinham começado a observar  dias,  meses, tempos e anos de que fala a lei de Moisés, tudo coisas "que são sombras das coisas futuras" (Col. 2:17), mas que alguns lhes impunham  porque diziam que para serem salvos precisavam ser circuncidados e observar a lei. Quando Paulo ouviu que os Gálatas tinham sido conturbados, se pôs a orar por eles para que caissem em si mesmos e obedecessem à verdade do Evangelho. O apóstolo disse-lhes que estava de novo em dores de parto por eles, e que o estaria até que Cristo fosse formado neles; ele se exprimiu assim para dizer aos Gálatas que combatia em oração por eles. Como uma mulher é  colhida por dores antes de dar à luz, assim também Paulo, quando ouviu que os Gálatas tinham sido fascinadosfoi colhido por dores, e tinha começado a orar por eles com gemidos inexprimíveis (pelo  Espírito Santo); e estas suas dores não acabariam até que Cristo não fosse formado neles. Irmãos, Paulo nos mostrou o que é necessário fazer no caso de nossos irmãos venham a ser fascinados como os Gálatas.

Porque coisas os apóstolos exortavam a orar

Vejamos agora algumas exortações dos apóstolos que concernem à oração, as quais nos dizem que coisas nós devemos pedir a Deus.

Paulo, falando da completa armadura de Deus da qual nós nos devemos revestir para combater os nossos inimigos, disse: "Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica pelo Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos, e por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com franqueza, para fazer notório o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias; para que possa falar dele livremente, como me convém falar" (Ef. 6:18-20). O apóstolo exortava os santos a orar pelo Espírito Santo em todo o tempo (vos recordo que orar pelo Espírito significa em outra língua); a vigiar com perseverança e com as orações pelos santos e também por ele, para que Deus lhe desse de anunciar o Evangelho com franqueza. Paulo sabia de que maneira ele devia anunciar o Evangelho e exortava os santos a orar por ele, porque considerava que os fiéis podiam ajudá-lo nisto com as suas súplicas em seu favor. Alguém dirá: ‘Mas de que maneira deve ser anunciado o Evangelho?’ O Evangelho deve ser anunciado com poder, com o Espírito Santo e com plena convicção, e não com excelência de palavras e com discursos persuasivos de sabedoria humana, para que a cruz de Cristo não se faça vã. Tu dirás: ‘Portanto a palavra da cruz pode se tornar ineficaz?’ Sim, ela torna-se ineficaz (porque vem esvaziada do seu poder) quando é transmitida com excelência de palavras e com discursos persuasivos de sabedoria humana. Sabei que ainda hoje os que foram chamados por Deus a pregar necessitam das nossas orações, portanto oremos pelos servos do Senhor que anunciam o caminho da salvação, para que Deus lhes conceda de anunciar a Palavra da graça com toda a franqueza.

Paulo escreveu aos santos de Colossos: "Perseverai em oração, velando nela com acção de graças; orando também juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da Palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual estou também preso..." (Col. 4:2,3). Ora, o apóstolo, quando escreveu estas palavras, estava em prisões, e exortou os santos a pedir a Deus para abrir a ele e aos seus cooperadores uma porta para a Palavra; isto nos ensina que, também em prisões Deus pode abrir uma porta para a Palavra, porque a sua palavra não pode ser encarcerada por ninguém; podem ser encarcerados os ministros da Palavra, mas não a Palavra de Deus. Vós sabei que a Palavra de Deus dá fruto quando é recebida pelos que a ouvem, mas para que quem ouve a palavra, receba a palavra, é necessário que ele abra o seu coração ao amor pela verdade. Recordai-vos de Lídia, vendedora de púrpura; Lucas diz que "o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia" (Actos 16:14); foi assim que a palavra de Deus pode entrar no seu coração e dar fruto. Ainda hoje é necessário que o Senhor abra o coração daqueles que ouvem o Evangelho, para que a palavra da graça penetre neles e eles sejam salvos por ela. Vejamos agora o que entende a Escritura por ‘abra a porta da Palavra’. Enquanto Paulo se encontrava em Éfeso escreveu aos Coríntios: "Ficarei, porém, em Éfeso até ao Pentecostes, porque uma porta grande e eficaz se me abriu, e há muitos adversários" (1 Cor. 16:8,9). Ora, para perceber em que consistia esta ‘porta grande e eficaz que se abriu’, é necessário referir o que escreveu Lucas a respeito da obra de Paulo na cidade de Éfeso. Quando Paulo foi a Éfeso pelo Evangelho, aconteceu que encontrou alguns discípulos aos quais, depois que eles foram batizados em nome do Senhor Jesus, ele impôs as mãos para que recebessem o Espírito Santo, e "veio sobre eles o Espírito Santo, e falavam línguas e profetizavam" (Actos 19:6). "E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus. Mas, como alguns deles se endureceram e não obedeceram, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano. E durou isto por espaço de dois anos; de tal maneira que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos. E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam... E muitos dos que tinham crido vinham, confessando e publicando os seus feitos. Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros e os queimaram na presença de todos e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinquenta mil peças de prata. Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia" (Actos 19:8-12,18-20). Na Ásia todos ouviram a palavra do Senhor, mas nem todos se converteram ao Senhor; de qualquer forma foram muitos os que aceitaram a palavra pregada por Paulo, de facto isto o reconheceu também um daqueles que não recebeu a Palavra, um certo Demétrio (um ourives que fazia miniaturas do templo de Diana em prata), quando disse para os artífices: "E bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos" (Actos 19:26). Em Éfeso portanto, através do ministério de Paulo, houveram os que aceitaram o Evangelho da graça, muitos dos quais vieram a confessar publicamente as coisas que tinham feito; houveram os que receberam o Espírito Santo e também o dom de profecia, e os que receberam curas e libertações em nome do Senhor Jesus; esta é a razão pela qual Paulo escreveu aos Coríntios, de Éfeso: "Uma porta grande e eficaz se me abriu" (1 Cor. 16:9). Certo, nem sempre a porta aberta para a Palavra é grande como o foi a de Éfeso, mas seja como for, todas as vezes que em um país ou em uma cidade se convertem almas, mesmo se poucas, nós podemos afirmar que aqui o Senhor abriu aos seus servos uma porta para a Palavra. Mas a este ponto é necessário dizer que todas as vezes que Deus abre aos seus ministros uma porta para a sua Palavra, surgem adversários e por consequência as perseguições, que podem ser tanto verbais como físicas. A tal respeito vos recordo que Paulo disse que em Éfeso haviam muitos adversários, o que significa que o Evangelho encontrou muita oposição naquela cidade, e isto é confirmado pelas palavras de Lucas: "E, naquele mesmo tempo, houve um não pequeno alvoroço acerca do Caminho" (Actos 19:23), e também pelas de Paulo aos Coríntios: "Não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos. Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos, o qual nos livrou de tão grande morte, e livrará; em quem esperamos que também nos livrará ainda, ajudando-nos também vós com orações por nós, para que pela mercê, que por muitas pessoas nos foi feita, por muitas também sejam dadas graças a nosso respeito" (2 Cor. 1:8-11). Quero debruçar-me, a este ponto, sobre estas palavras de Paulo: "Ajudando-nos também vós com orações por nós, para que pela mercê, que por muitas pessoas nos foi feita, por muitas também sejam dadas graças a nosso respeito" (2 Cor. 1:11), para fazer-vos perceber quanto podem fazer as nossas súplicas em favor dos que anunciam o Evangelho e o que elas produzem. Antes de tudo irmãos, vós deveis saber que os ministros do Evangelho têm muitos inimigos, entre os quais estão homens dissolutos e maus que não têm a fé, e por isso nós crentes devemos orar pelos ministros da Palavra, para que Deus os livre das ciladas deles. Paulo exortava os santos a orar por ele e seus cooperadores, não só para que a Palavra por meio deles se expandisse e fosse glorificada (como por exemplo em Antioquia da Pisídia, conforme  está escrito: "E os Gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a Palavra do Senhor" [Actos 13:48]), mas também para que eles fossem livres dos malvados; isto é confirmado por esta exortação de Paulo aos Tessalonicenses: "No demais, irmãos, rogai por nós, para que a palavra do Senhor tenha livre curso e seja glorificada, como também o é entre vós, e para que sejamos livres de homens dissolutos e maus, porque a fé não é de todos" (2 Tess. 3:1,2). A tal respeito, vos recordo também a exortação que Paulo dirigiu aos santos de Roma, enquanto ele estava em viagem para Jerusalém para lhes levar uma colecta destinada aos pobres dentre os santos daquela cidade: "E, rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que combatais comigo nas vossas orações por mim a Deus, para que seja livre dos rebeldes que estão na Judéia..." (Rom. 15:30,31). Por estas exortações do apóstolo Paulo, se percebe como Paulo considerava muito útil as orações dos santos em seu favor e dos seus cooperadores. Também ele cria que "a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos" (Tiago 5:16), mas não só o cria, mas também o viu em muitas ocasiões. Uma das ocasiões em que viu Deus livrá-lo dos homens maus, em resposta à oração dos santos em seu favor, foi na sua volta a Jerusalém (depois ter dirigido a exortação acima referida aos santos de Roma), de facto Paulo em Jerusalém foi agarrado pelos Judeus desobedientes os quais procuraram matá-lo, mas foi livre por Deus das suas mãos.

Eis outras passagens da Escritura que confirmam como os apóstolos criam que os santos podiam ajudá-los pelas suas súplicas (tende presente que estas palavras foram escritas da prisão):

·      "Me regozijarei ainda, porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo... Confio no Senhor, que também eu mesmo em breve irei ter convosco " (Fil. 1:19; 2:24). Paulo, da prisão, escreveu aos Filipenses que pelas suas orações e o socorro do Espírito de Jesus (o Espírito socorre os santos porque intercede por eles segundo Deus) ele seria libertado, e expressa esta sua confiança com estas palavras: "E, tendo esta confiança, sei que ficarei, e permanecerei com todos vós para proveito vosso e gozo da fé" (Fil. 1:25).

·      "E juntamente prepara-me também pousada, porque espero que pelas vossas orações vos hei de ser concedido" (Filem. 22); Paulo, enquanto estava na prisão, disse a Filemom para preparar-lhe pousada, porque tinha confiança no Senhor que pelas suas orações, estaria de novo no meio deles.

·      "Orai por nós... E rogo-vos com instância que assim o façais, para que eu mais depressa vos seja restituído" (Hebr. 13:18,19); o escritor da epístola aos Hebreus, da prisão, fez saber aos crentes que pelas suas orações eles apressariam a sua libertação da prisão.

Depois irmãos, quero que saibais que pela resposta de Deus em favor dos ministros do Evangelho pelos quais orais, muitos agradecimentos serão dirigidos a Deus por muitos crentes, portanto as vossas orações em seu favor produzem abundância de acções de graças para a glória de Deus. Não é maravilhoso saber que nós, pelas nossas orações, cooperamos para a difusão da Palavra de Deus porque ajudamos os ministros da Palavra a pregar o Evangelho com toda a franqueza, e fazemos também que eles sejam livres dos homens maus e dissolutos? Está escrito: "E como pregarão, se não forem enviados?" (Rom. 10:15); irmãos, para que a Palavra de Deus se expanda por todo o mundo, é necessário que Deus envie homens a pregar o Evangelho lá onde ainda Cristo não foi mencionado, por isso nós crentes devemos suplicar a Deus para que mande ceifeiros para a sua seara. Cristo Jesus nos deu mandamento disto, de facto ele disse: "Rogai pois ao Senhor da seara que mande ceifeiros para a sua seara" (Mat. 9:38).

O apóstolo João escreveu: "Se alguém vir pecar seu irmão pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore" (1 João 5:16). O crente que cometeu um pecado, depois de ter praticado o pecado, está perturbado e descontente, e não pode ser doutra forma porque o pecado, diz Tiago, "sendo consumado, gera a morte" (Tiago 1:15). Mas não obstante isso, ele pode ser perdoado e vivificado se confessa o seu pecado ao Senhor. Ora, no caso de nós virmos um irmão cometer um pecado que não é para morte, devemos orar a Deus para que o vivifique, e Deus, na sua fidelidade, lhe dará a vida; mas sabei também que, se um irmão cometeu o pecado que é para morte (isto é, o pecado que conduz, quem o comete, à segunda morte), não é necessário orar por ele, porque cometeu o pecado que não pode ser perdoado.

O apóstolo Tiago, o irmão do Senhor, na sua epístola escreveu: "Está alguém entre vós aflito? Ore" (Tiago 5:13). Ora, nós, quando sofremos por causa da justiça, devemos orar, porque isto foi aquilo que nos foi mandado fazer. Pedro diz: "Portanto também os que padecem segundo a vontade de Deus encomendem-lhe as suas almas, como ao fiel Criador, fazendo o bem" (1 Ped. 4:19), e estas suas palavras concordam com as de Tiago, porque quando alguém ora a Deus no meio das suas aflições não faz mais que encomendar a sua alma a Deus. Na Escritura temos diversos exemplos de homens que no meio dos seus sofrimentos oraram a Deus; eu citarei o do profeta Jeremias, e o do nosso Senhor Jesus. Assim orou Jeremias numa ocasião: "Tu, ó Senhor, o sabes; lembra-te de mim, e visita-me, e vinga-me dos meus perseguidores; não me arrebates, por tua longanimidade; sabe que por amor de ti tenho sofrido afronta. Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome me chamo, ó Senhor, Deus dos Exércitos. Nunca me assentei no congresso dos zombadores, não me regozijei; por causa da tua mão me assentei solitário, pois me encheste de indignação. Por que dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói e não admite cura? Serias tu para mim como ilusório ribeiro e como águas inconstantes?" (Jer. 15:15-18). Jesus, na noite em que foi traido, antes que fosse preso, "começou a entristecer-se e a angustiar-se muito" (Mat. 26:37) e disse aos seus discípulos: "A minha alma está cheia de tristeza até a morte" (Mat. 26:38), e neste estado de alma ele se lançou com o rosto por terra e orou que, "se fosse possível, passasse dele aquela hora" (Mar. 14:35). Assim orou Jesus no Getsêmani: "Aba, Pai! Todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres" (Mar. 14:36). Irmãos, em verdade, a melhor coisa a fazer quando se padece injustamente é orar, porque com a oração nós derramamos o nosso coração diante do Senhor, confessando-lhe as nossas angústias e as nossas perplexidades, confiantes que ele nos ouve e nos vem em ajuda com as suas poderosas consolações.

O mesmo Tiago ordenou aos anciãos da igreja para orarem pelos enfermos quando estes os chamam, de facto escreveu: "Está alguém entre vós doente? Chame os anciãos da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados" (Tiago 5:14,15). Notai que é o enfermo que deve chamar os anciãos da igreja e não o contrário, e além disso que os anciãos devem orar sobre o doente ungindo-o com azeite em nome do Senhor. "E a oração da fé salvará o doente" (Tiago 5:15), diz Tiago, portanto, os anciãos devem orar com fé sobre o doente, sem duvidar, para ver o enfermo restabelecido pelo Senhor.

O irmão do Senhor, na sua epístola diz também: "Orai uns pelos outros, para que sareis" (Tiago 5:16), por isso nós devemos interceder junto de Deus pelos nossos irmãos doentes, para que Deus os sare. Quando Miriã, a irmã de Moisés, murmurou juntamente com Arão contra Moisés, aconteceu que Deus puniu Miriã com a lepra, mas Moisés orou a Deus por ela, de facto está escrito que "clamou pois Moisés ao Senhor, dzendo: ó Deus, rogo-te que a cures!" (Num. 12:13), e Deus ouviu Moisés, porque depois que Miriã esteve por sete dias fora do arraial porque era leprosa, ela foi readmitida no arraial porque a lepra tinha desaparecido do seu corpo. Quanto pode fazer a súplica do justo em favor do doente, o lêmos também na história de Abraão, de facto a Escritura diz que "orou Abraão a Deus, e sarou Deus a Abimeleque, e à sua mulher, às suas servas, de maneira que tiveram filhos; porque o Senhor havia fechado totalmente todas as madres da casa de Abimeleque, por causa de Sara, mulher de Abraão" (Gên. 20:17,18). Há um outro exemplo nas Escrituras que nos mostra quanto pode fazer a oração de um justo por um doente; é o do filho de Abraão, de facto está escrito: "Isaque orou instantemente ao Senhor por sua mulher, porquanto era estéril, e o Senhor ouviu as suas orações, e Rebeca sua mulher concebeu" (Gên. 25:21).

Algumas circunstâncias em que os apóstolos oraram

Vejamos agora em quais circunstâncias os apóstolos oraram, para perceber como a oração tinha uma grande importância para eles.

·      Os apóstolos, juntamente com outros irmãos, oraram para que Deus os guiasse na escolha do sucessor de Judas Iscariotes. Lucas, a tal propósito, diz que (depois que Pedro disse aos irmãos que era necessário que um dos homens que estiveram em sua companhia todo o tempo que o Senhor Jesus entrou e saiu de entre eles, desde o batismo de João até ao dia da assunção ao céu de Jesus, fosse feito testemunha da ressurreição de Cristo) eles "apresentaram dois: José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome o Justo, e Matias. E, orando, disseram: Tu, Senhor, conhecedor dos corações de todos, mostra qual destes dois tens escolhido, para que tome parte neste ministério e apostolado, de que Judas se desviou, para ir para o seu próprio lugar.E lançando-lhes sortes, caiu a sorte sobre Matias. E por voto comum foi contado com os onze apóstolos" (Actos 1:23-26).

·      Em Jerusalém, depois que foram eleitos os sete, isto é, Estêvão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas, Nicolau, para que servissem às mesas, os crentes "os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos" (Actos 6:6). Neste caso, os apóstolos, antes de encarregar os sete daquela obra assistêncial quiseram orar.

·      Paulo e Barnabé, durante as suas viagens, fundaram igrejas, e fizeram eleger "anciãos em cada igreja, orando com jejuns" (Actos 14:23); os apóstolos atribuiam muita importância à eleição dos anciãos e de facto antes de elegê-los oravam e jejuavam. (Recordai-vos que Jesus, antes de eleger os doze apóstolos, orou também ele, de facto está escrito que "naqueles dias subiu ao monte a orar, e passou a noite em oração a Deus. E, quando já era dia, chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos" [Lucas 6:12,13]).

·      Pedro e João oraram pelos Samaritanos que tinham crido, "para que recebessem o Espírito Santo" (Actos 8:15). Está de acordo com a Palavra de Deus orar pelos crentes para que recebam o Espírito Santo.

·      Pedro orou antes de ressuscitar Tabita, conforme está escrito: "Pedro, fazendo-as sair a todas, pôs-se de joelhos e orou; e, voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te. E ela abriu os olhos, e, vendo a Pedro, sentou-se" (Actos 9:40).

·      Paulo orou antes de curar o pai de Públio, conforme está escrito: "Paulo foi ver, e, havendo orado, pôs as mãos sobre ele, e o curou " (Actos 28:8).

·      Os apóstolos Paulo e Silas, depois de terem sido açoitados com varas, oraram na prisão de Filipos, de facto está escrito: "E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam" (Actos 16:25). (O que eles fizeram é o cumprimento do que diz Tiago: "Está alguém entre vós aflito? Ore" [Tiago 5:13]).

·      Paulo, em Mileto, orou com os anciãos da igreja de Éfeso antes de deixá-los, conforme está escrito: "Pôs-se de joelhos, e orou com todos eles....E acompanharam-no até ao navio" (Actos 20:36,38). Os apóstolos oraram juntamente com os fiéis antes de deixar Tiro, conforme está escrito: "Saímos, e seguimos nosso caminho, acompanhando-nos todos, com suas mulheres e filhos até fora da cidade; e, postos de joelhos na praia oramos. E, despedindo-nos uns dos outros, subimos ao navio, e eles voltaram para suas casas" (Actos 21:5,6). Nós também fazemos o que é justo quando oramos antes de viajar. Sabei que o pedir a Deus uma boa viagem é confirmado pela Escritura que diz: "Então apregoei ali um jejum junto ao rio Aava, para nos humilharmos diante da face do nosso Deus, para lhe pedirmos uma boa viagem para nós, e para nossos filhos, e para toda a nossa fazenda..." (Esd. 8:21).

Como a igreja primitiva orou em duas particulares circunstâncias

Voltemo-nos ainda para a sagrada Escritura para ver como a igreja antiga orou em duas particulares circunstâncias.

Lucas escreveu: "E, soltos eles (Pedro e João), foram para os seus, e contaram tudo o que lhes disseram os principais dos sacerdotes e os anciãos. E, ouvindo eles isto, unânimes levantaram a voz a Deus, e disseram: Senhor, tu és o Deus que fizeste o céu, e a terra, e o mar e tudo o que neles há; que disseste pela boca de David, teu servo: Por que bramaram as gentes, e os povos pensaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da terra, e os príncipes se ajuntaram à uma, contra o Senhor e contra o seu Ungido. Porque verdadeiramente contra o teu Santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer. Agora pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem com toda a franqueza a tua palavra; enquanto estendes a tua mão para curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Filho Jesus" (Actos 4:23-30; Sal. 2:1,2). Examinando cuidadosamente esta oração, notamos que os crentes, antes de tudo recordaram a Deus quem Ele era (é justo que também nós recordemos a Deus quem Ele é, porque Deus diz: "Procura lembrar-me; entremos em juízo juntamente" [Is. 43:26]), depois o que Deus tinha dito por meio de Davi a respeito do seu Ungido e como o que Ele tinha dito se cumpriu (portanto é coisa justa, quando se ora, que se citem também versículos da Escritura). Depois de ter dito isso, pediram a Deus para conceder aos seus servos de anunciar com franqueza a sua Palavra e de estender a sua mão para curar e para confirmar a sua palavra com sinais e prodígios. Alguém dirá: ‘Foi ouvida aquela oração?’ Sim, foi ouvida, porque está escrito que "tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos, e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com franqueza a palavra de Deus" (Actos 4:31), e também que "muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos.." (Actos 5:12) e que "até das cidades circunvizinhas concorria muita gente a Jerusalém, conduzindo enfermos e atormentados de espíritos imundos; os quais todos eram curados" (Actos 5:16). Irmãos, aquilo que a igreja de Deus pediu naquela altura, o deve pedir a Deus ainda hoje, porque ainda hoje é necessário que a sua palavra seja anunciada com franqueza e que o testemunho de Cristo seja confirmado com curas, sinais e prodígios. Não há necessidade só da franqueza, mas também da demonstração do Espírito Santo, para que os homens se convertam ao Senhor, portanto alçai junto conosco a vossa voz a Deus, para que Deus acrescente o seu testemunho ao dos seus servos com sinais e prodígios, e com dons do Espírito Santo. O nosso desejo é o de ver o Evangelho pregado com franqueza como nos tempos antigos, mas não só, também o de ver o nosso grande Deus confirmar a Boa Nova da paz. Hoje, nesta nação, como em muitas outras, a fé de muitos está fundada sobre a sabedoria dos homens e não sobre o poder de Deus, e isto porque o Evangelho, em muitos casos, não é pregado com o poder que caracterizava as pregações dos apóstolos, mas com discursos persuasivos de sabedoria humana. Isto, dilectos, nos deve incitar a pedir a Deus para fazer anunciar a sua palavra com franqueza. Mas quero dizer uma outra coisa, e é esta: a razão pela qual muitos não temem e não tremem diante da Palavra de Deus é porque nunca foram testemunhas da verdadeira manifestação do Espírito Santo. Alguém dirá: ‘Mas porque é que falas de verdadeira manifestação do Espírito?’ Porque hoje no seio do povo de Deus  acontecem coisas que são feitas passar pela manifestação do Espírito, mas não são mais que uma hábil falsificação da manifestação do Espírito, feita passar por verdadeira aos olhos dos simples e dos que são inconstantes nos seus caminhos; muitos confundem a sugestão com a manifestação do Espírito Santo, e a violência e as provas de força de alguns que pregam o Evangelho, com o poder de Deus. Não é difícil encontrar pregadores do Evangelho que dizem às multidões: ‘Concentrai-vos, imaginai estar curados e não mais doentes’; como se a cura do corpo fosse o fruto de uma intensa concentração ou das sugestões que alguns sabem perpetrar com os simples. Mas não é difícil encontrar também aqueles que pregam e dão bofetadas, socos e empurrões aos doentes deitando-os ao chão e depois dizem que é o poder de Deus que os fez cair ao chão. E o tempo seria pouco se falasse de todas as reuniões de evangelização onde o Evangelho é pregado só com palavras, sem poder, sem plena convicção, e onde a ensurdecedora amplificação sonora dá a impressão a muitos que quem prega, está pregando com poder. Mas quero dizer também que é fácil assistir a reuniões onde é dito, ao terminar delas, que Deus curou muitos doentes quando se orou por eles, mas depois, quando se vai a ver de perto quem são os que disseram ter sido curados, nos apercebemos que a maior parte deles, se não todos algumas vezes, têm ainda aquela maleita. Estamos cansados de ouvir narrar curas que nunca aconteceram, as quais contadas serve a alguns pregadores sem escrúpulos para fazer acorrer pessoas às suas reuniões e a se tornarem famosos e ricos; nós queremos ver verdadeiramente os doentes curados, os cegos recuperar a vista, os surdos ouvir, os mudos falar, os coxos caminhar, os mortos ressuscitar, os possuidos libertados dos demónios e os leprosos limpos, para que os homens, vendo as obras poderosas do nosso Deus, sejam trazidos à obediência da fé, e os fiéis tornem a caminhar no santo temor de Deus.

Lucas referiu uma outra circunstância na qual a igreja orou a Deus e foi ouvida e é aquela quando Pedro foi preso. Ele escreve: "E por aquele mesmo tempo o rei Herodes estendeu as mãos sobre alguns da igreja, para os maltratar; e matou à espada Tiago, o irmão de João. E, vendo que isso agradara aos judeus, continuou, mandando prender também a Pedro. E eram os dias dos asmos. E, havendo-o prendido, o encerrou na prisão, entregando-o a quatro quaternos de soldados, para que o guardassem, querendo apresentá-lo ao povo depois da páscoa. Pedro, pois, era guardado na prisão; mas a igreja fazia contínua oração por ele a Deus" (Actos 12:1-5). Como podeis ver, a igreja, quando Pedro foi preso, não se esqueceu dele, antes começou a orar com fervor em favor de Pedro. Ora, se bem que não venha especificado o que os santos pediram a Deus por Pedro, também o podemos deduzir por algumas exortações que o apóstolo Paulo dirigiu aos santos da prisão, que são estas:

·      "Me regozijarei ainda, porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa oração.." (Fil. 1:19)

·      "Espero que pelas vossas orações vos hei de ser concedido" (Filem. 22).

Nós consideramos que os irmãos da Igreja de Jerusalém oraram por Pedro para que ele fosse libertado da prisão. A continua oração de que fala a Escritura, foi ouvida porque Deus enviou um anjo para libertar Pedro das mãos de Herodes e de toda a expectação do povo dos Judeus. Quereria sublinhar uma coisa que se lê neste relato feito por Lucas, ou seja, quando Lucas diz que continua oração era feita pela igreja a Deus por Pedro, quer dizer que os fiéis oravam a Deus pelo apóstolo Pedro. Isto é confirmado da Escritura que diz que na casa de Maria, mãe de João que tinha por sobrenome Marcos, "muitos estavam reunidos e oravam" (Actos 12:12), portanto, podemos dizer que a igreja que estava reunida em casa de Maria orava por Pedro. Por isso, nós não podemos chamar “igreja”, ao edifício onde nos reunimos para render o nosso culto ao Senhor, porque isso não encontra respaldo algum na Palavra de Deus. A casa de Deus somos nós, conforme está escrito: "A qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim" (Hebr. 3:6), e não é de modo nenhum o local de culto, ou a habitação do irmão onde nos reunimos para orar a Deus. Irmãos, nós, a igreja do Deus vivo, devemos orar pelos nossos irmãos presos como malfeitores, para que Deus os console, os mantenha firmes em Cristo, e os faça pôr em liberdade. Certo, é verdade, houveram irmãos que foram presos por causa do Evangelho e na prisão encontraram a morte, mas isso aconteceu porque Deus quis que morressem na prisão, e não porque Deus não podia libertá-los das suas prisões. Um dia saberemos também porque determinadas nossas orações não foram ouvidas por Deus, mas na espera de vir a saber as coisas que nos estão ocultas, continuemos a nos lembrar dos presos, também orando continuamente por eles porque Deus quer que o façamos, conforme está escrito: "Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles..." (Hebr. 13:3).


A que condições serão ouvidas as nossas orações

O nosso Deus prometeu ouvir as nossas súplicas com estas condições.

·      Se orarmos com fé. Jesus disse: "E tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis " (Mat. 21:22). Ora, "a fé é a certeza das coisas que se esperam" (Hebr. 11:1), portanto quando nós oramos com fé, estamos certos de obter aquilo que pedimos a Deus. Jesus disse: "Tudo o que pedirdes orando, crede que o recebereis, e te-lo-eis" (Mar. 11:24); também nestas palavras está presente o facto que quando oramos devemos crer para ser ouvidos. Mas o que devemos crer? Devemos crer ter recebido isso pelo qual oramos. Dilectos, sabei que antes de receber se deve crer, de facto primeiro está escrito: "Crede que o recebereis" (Mar. 11:24), e depois: "E te-lo-eis" (Mar. 11:24). Tiago, o irmão do Senhor, na sua epístola, confirmou as palavras de Jesus dizendo: "E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada. Peça-a, porém, com fé, não duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte. Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa. O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos" (Tiago 1:5-8). Notai a ordem em que estão escritas também aqui as coisas; primeiro está escrito: "Peça-a a Deus " (Tiago 1:5) (com fé), e depois: "E ser-lhe-á dada" (Tiago 1:5); como podeis ver, para receber sabedoria de Deus, é preciso pedi-la com fé, sem duvidar. Se por um lado, quem ora a Deus com fé é ouvido, por outro, quem ora duvidando não é ouvido. Quem duvida é inconstante em todos os seus caminhos, e é semelhante a uma onda do mar agitada pelo vento e lançada de uma para outra parte, e Tiago diz que quem duvida não deve pensar em receber alguma coisa do Senhor. As palavras do apóstolo são fortes, mas ao mesmo tempo verdadeiras. Jesus, um dia disse aos seus discípulos: "Tende fé em Deus; porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar; e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito" (Mar. 11:22,23). Quereria debruçar-me sobre estas palavras do Senhor, para explicar-vos o que significa orar sem duvidar mas crendo. Notai que Jesus disse: "E não duvidar em seu coração" (Mar. 11:23); ora, do coração procedem as fontes da vida, por isso é necessário guardá-lo mais do que qualquer outra coisa, porque se nós oramos a Deus, não crendo com o coração que obteremos aquilo que lhe pedimos (porque pensamos em nosso coração que a coisa que pedimos é demasiado difícil para o Senhor e Ele não a pode dar), nós não obteremos nada do Senhor, senão repreensão. Quando nós oramos, o nosso coração deve estar firme, confiante no Senhor; então obteremos aquilo que pedimos a Deus. Na oração devemos crer, não só que Deus pode fazer o que lhe pedimos para fazer, mas também que Ele o fará, porque está escrito: "Crede que o recebereis" (Mar. 11:24), e também: "E não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz..." (Mar. 11:23). Para explicar-vos o que significa crer que se fará aquilo que diz, vos citarei um episódio que aconteceu nos dias de Jesus, em Cafarnaum. Está escrito: "E, entrando Jesus em Cafarnaum, chegou junto dele um centurião, rogando-lhe, e dizendo: Senhor, o meu criado jaz em casa, paralítico, e violentamente atormentado. E Jesus lhe disse: Eu irei, e lhe darei saúde. E o centurião, respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas diz somente uma palavra, e o meu criado sarará; pois também eu sou homem sob autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu criado: Faz isto, e ele o faz. E maravilhou-se Jesus, ouvindo isto, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé...Então disse Jesus ao centurião: Vai, e como creste te seja feito. E naquela mesma hora o seu criado sarou" (Mat. 8:5-10,13). Aquele centurião romano, tendo ouvido falar de Jesus, foi a ele rogando-lhe pelo seu criado que era paralítico, e Jesus lhe disse que iria e o curaria, mas o centurião lhe respondeu para não se dar àquele incómodo, porque ele não se reputava digno que ele entrasse debaixo do seu telhado. Ele disse a Jesus para dizer somente uma palavra, e o seu criado seria curado. A fé daquele homem foi admirável, porque não só creu que Jesus podia curar o seu servo, mas também que o seu servo seria curado à palavra de Cristo. Jesus viu a fé que estava nele e satisfez o seu pedido. Notai a expressão do centurião: "Diz somente uma palavra, e o meu criado sarará" (Mat. 8:8), porque ela está a demonstrar que ele não duvidou  em seu coração, mas creu que o Senhor curaria o seu criado só com uma palavra. Mas notai também a resposta que lhe deu  Jesus, porque ela mostra como ao centurião foi feito como tinha dito e crido. Não está porventura escrito: "E não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito" (Mar. 11:23)? A oração do justo feita com fé não agrada ao nosso adversário, por isso, quando se ora, é necessário resistir ao diabo, estando firme na fé. Sabei que o diabo tenta de todas as maneiras nos fazer duvidar das promessas do Senhor para não nos fazer ver o seu cumprimento na nossa vida; vos asseguro que quando se dobram os joelhos diante do Deus Omnipotente e o se ora com fé, os nossos inimigos não ficam indiferentes. Deles o diabo se usa para nos atemorizar  e nos induzir a pensar que Deus não pode ouvir-nos, que aquilo que pedimos não é mais para nós hoje, e outras coisas nocivas; mas vós dilectos, não vos atemorizeis, porque Jesus disse: "Tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei" (João 14:13); tende fé nestas palavras de nosso Senhor e vereis as vossas orações ouvidas...no tempo fixado por Deus.

·      Se guardarmos os seus mandamentos. Jesus disse: "Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito" (João 15:7). Também nestas palavras de nosso Senhor, há um ‘se’ no qual devemos pôr muita atenção, porque ele nos faz perceber a que condições Deus nos dará o que lhe pedimos. Ora, mas o que significa estar em Cristo? Estar em Cristo significa guardar os seus mandamentos, conforme está escrito: "Aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e Ele nele" (1 João 3:24). Jesus disse também: "Se... as minhas palavras estiverem em vós" (João 15:7), portanto é necessário também que as palavras de Jesus habitem em nós para sermos ouvidos por Deus. A tal respeito vos recordo que fazer habitar as palavras de Cristo em nós, é um mandamento de Deus, de facto Paulo escreveu: "A palavra de Cristo habite em vós abundantemente" (Col. 3:16); portanto, quem não quer colocar as palavras de Cristo no seu peito não respeita o mandamento divino, e por consequência, quando ora não será ouvido. Alguns dizem que para que as nossas orações sejam ouvidas é necessário apenas ter fé, mas a Escritura ensina que para obter aquilo que se pede a Deus, é necessário também ter uma conduta justa, de facto João escreveu: "E qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos os seus mandamentos, e fazemos o que é agradável à sua vista" (1 João 3:22). Quem pensa que também tendo uma conduta ímpia, as suas orações serão ouvidas confia na ilusão. Hoje, são muitos aqueles que se iludem e iludem os outros fazendo-lhes pensar que não importa como se comportam, Deus ouvirá as suas orações, mas eu vos demonstro com as Escrituras como os que caminham segundo a teimosia do seu coração, sem dar ouvidos ao Senhor não são ouvidos por Deus quando oram a Deus. O apóstolo Pedro diz: "Igualmente, vós, maridos, coabitai com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus co-herdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações" (1 Ped. 3:7). Que significa isto? Significa que se um marido crente despreza a sua mulher, lhe é infiel, e não lhe mostra verdadeiro amor, maltratando-a e  ferindo-a, quando ele orar, Deus não lhe responderá por causa da sua conduta indigna. Dilectos, Deus não nos lisonjeia com as suas palavras; podem nos lisonjear os homens, mas não Deus, porque Ele é santo e justo. Recordai-vos do que aconteceu a Saúl, rei de Israel; a Escritura diz que quando os Felisteus se acamparam em Suném para mover-lhe guerra, "consultou Saul ao Senhor, porém o Senhor não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas." (1 Sam. 28:6). Sabeis porque Deus não lhe respondeu? Porque Saul não tinha observado os mandamentos que Deus lhe tinha dado pelo profeta Samuel; Deus tinha se lhe tornado adversário e quando ele se encontrou na angústia e consultou Deus, Ele não lhe respondeu. Ouvi agora as palavras que Deus dirigiu aos chefes da casa de Israel através do profeta Miquéias: "Ouvi agora vós, chefes de Jacó, e vós, príncipes da casa de Israel: não é a vós que pertence saber o direito? A vós que aborreceis o bem, e amais o mal, que arrancais a pele de cima deles, e a sua carne de cima dos seus ossos, e que comeis a carne do meu povo e lhes arrancais a pele, e lhes esmiuçais os ossos, e os repartis como para a panela e como carne no meio do caldeirão. Então clamarão ao Senhor, mas não os ouvirá, antes esconderá deles a sua face naquele tempo, visto que eles fizeram mal nas suas obras" (Miq. 3:1-4). Também por estas palavras se compreende claramente que Deus não responde aos que fazem más acções e clamam a ele nas suas angústias. Eis o que diz a sabedoria aos escarnecedores: "Então clamarão a mim (nas suas angústias), mas eu não responderei; de madrugada me buscarão, porém não me acharão. Porquanto aborreceram o conhecimento; e não preferiram o temor do Senhor: Não aceitaram o meu conselho, e desprezaram toda a minha repreensão" (Prov. 1:28-30). Dilectos, o repito: Guardai que se nós não damos ouvidos a Deus, também Ele não nos dará ouvidos a nós. Sabeis como se conduziam os Israelitas durante o tempo no qual viveram Isaías, Jeremias e Ezequiel? Desta maneira; eles desprezavam pai e mãe, oprimiam o estrangeiro, pisavam o orfão e a viúva e o pobre, caluniavam com a sua língua, cometiam adultérios e incestos, emprestavam dinheiro por interesse e usura, roubavam, matavam, se prostravam diante dos ídolos das nações e lhes ofereciam perfumes e sacrificios, e depois de tudo isso encontravam também a coragem de se apresentarem nos átrios do Senhor para orar. Mas Deus respondeu-lhes: "Quando multiplicais as vossas orações, não as ouço...porque as vossas mãos estão contaminadas de sangue, e os vossos dedos de iniquidade; os vossos lábios falam falsamente, a vossa língua pronuncia  perversidade" (Is. 1:15; 59:3). Os Israelitas pensaram que também caminhando seguindo o seu coração teimoso, Deus ouviria as suas orações, mas este seu pensamento resultou vão. Também hoje, no seio do povo de Deus, alguns entretêm no seu coração o mesmo pensamento vão, iludindo-se. Vos digo aquilo que sucede: Alguns que dizem ter crido, pisam o orfão, a viúva e o pobre, roubam o seu irmão nos negóciosexaltam nos seus corações os mais variados ídolosferem impiamente com soco, enganam o seu próximo com mentiras, vão descobrir a sua nudez sobre a praia, permanecem plantados diante da televisão por horas e horas apascentando o olhar de vaidade e obscenidade, vão aos parques de diversão, nas salas de dança e ao cinema gastar o fruto do seu trabalho no que não sacia; servem Mamom, e depois vão ao culto e oram a Deus, dizendo-lhe: ‘Senhor, nós te amamos, responde-nos, e nós daremos a glória devida ao teu nome’. Mas que pensais? Que Deus possa se negar a si mesmo? Que Deus seja injusto e responda a pessoas que com a boca fazem mostra de muito amor, mas o seu coração vai atrás da cobiça? A Escritura diz: "O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável" (Prov. 28:9), e também que "o que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre, ele mesmo também clamará e não será ouvido" (Prov. 21:13). Estas palavras nunca se afastem dos vossos olhos, para que ninguém vos seduza com vãos argumentos. Quando a Escritura diz que "a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos" (Tiago 5:16), quer dizer que pode muito a oração da fé daquele que observa os mandamentos de Deus, porque o justo é aquele que além de ter sido justificado pela graça de Deus, faz o que é justo aos olhos de Deus, observando os seus mandamentos. Ouvi o que disse Deus através de Ezequiel: "Se um é justo e pratica a equidade e a justiça, se não come sobre os montes e não levanta os olhos para os ídolos da casa de Israel, se não contamina a mulher do seu próximo, se não se achega à mulher enquanto é impura, se não oprime ninguém, se dá ao devedor o seu penhor, se não rouba, se dá o seu pão a quem tem fome e cobre com vestido o nu, se não empresta por interesse e não dá por usura, se desvia a sua mão da iniquidade e julga segundo a verdade entre homem e homem, se segue as minhas leis e observa as minhas pescrições obrando com fidelidade, o tal é justo.." (Ez. 18:5-9). Lendo estas palavras, nós chagamos à conclusão que o justo é aquele que está em Cristo, e no qual estão as palavras de Cristo, portanto as palavras de Tiago: "A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos" (Tiago 5:16) confirmam plenamente as de Jesus: "Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito" (João 15:7). Certo, se por um lado podemos dizer que a oração da fé do justo pode fazer muito, por outro devemos dizer que a oração de quem recusa obedecer a Deus não pode fazer nada. Irmãos, examinemos atentamente os nossos caminhos e "purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus" (2 Cor. 7:1), como diz Paulo; digamos a verdade ao nosso próximo, façamos o bem atentemos para ele, fortaleçamos a mão do pobre e do necessitado repartindo com ele dos nossos bens materiais e amemo-nos uns aos outros sinceramente, lançando para longe de nós as hipocrisias, e então estaremos seguros de ser ouvidos por Deus e de receber d`Ele todas as coisas que lhe pedirmos.

·      Se lhe pedirmos coisas para nós que são da sua vontade. João diz: "E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos" (1 João 5:14,15). Irmãos, quando Jesus disse: "Pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito" (João 15:7), não tinha intenção de dizer que, não importa o que pedimos ou porque motivo a pedimos, porque a receberemos de certo. Sabei que as coisas que queremos devem ser segundo a vontade de Deus, para que as recebamos. Tiago diz aos que não são ouvidos por Deus porque nos seus corações têm em mira a iniquidade: "Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites" (Tiago 4:3). Como podeis ver, quando os pedidos apresentados a Deus não são de acordo com a vontade de Deus, eles não são satisfeitos por Deus. Ora, Deus quer que nós peçamos a Ele coisas boas, mas se Ele vê que nós pedimos mal (isto é, se vê que nós lhe pedimos coisas para utilizar depois mal), então não nos satisfaz. Estou seguro que se tu temes a Deus e tremes diante da sua palavra, e procuras governar bem a tua família, criando os teus filhos na admoestação do Senhor, e um dia um dos teus filhos viesse a ti e dissesse: ‘Papá, dá-me dinheiro porque quero ir ao cinema’, tu não lhe darás o que te pede, mas o repreenderás severamente. Mas porque não lhe darás o que te pede? Porque te pediu mal para gastar nos seus deleites. Ponhamos o caso que a tua mulher, passando junto de uma joelharia te diga: ‘Quero começar a usar jóias, para te agradar mais; peço-te, compra-me um colar de ouro e brincos de ouro?’ Que farás irmão que temes Deus e sabes que o que ela te está pedindo para comprar, Deus não quer que se use? Por certo não consentirás ao seu pedido, mas não porque não a amas, mas exactamente porque a amas, como Cristo amou a Igreja. Ora, se tu que temes a Deus não consentirás a certos pedidos daqueles da tua casa, porque é que Deus, que é santo e justo, deveria satisfazer certos pedidos de alguns da sua família que não são segundo a sua vontade? Os que pedem e não recebem, porque pedem mal para gastar nos seus deleites, são aqueles que amam o mundo e as coisas que são do mundo, os quais, indo atrás das concupiscências da carne e das concupiscências dos olhos e tendo-se ensoberbecido em seus corações, tornaram-se inimigos de Deus, o qual lhes resiste na cara.

É necessário dizer também que há algumas orações feitas a Deus que não são ouvidas não porque quem as faz seja injusto, amante dos deleites e soberbo, mas porque Deus decretou fazer doutro modo, e aquelas petições não são segundo a sua vontade (embora aquelas orações sejam feitas com fé e com sinceridade de coração). A Escritura nos ensina que Jesus Cristo, no Getsêmani, antes de ser preso, orou ao seu Pai e disse: "Aba, Pai! Todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres" (Mar. 14:36). Lucas diz que Jesus orou dizendo: "Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua" (Lucas 22:42). Como poderia Deus afastar aquele cálice de Jesus, quando ele mesmo tinha antes preestabelecido que o seu Ungido sofresse e fosse crucificado? Reconhecei irmãos que ‘afastar aquele cálice de Jesus’, não entrava de modo nenhum no plano de Deus. Seja glorificado Deus porque qualquer que seja a sua vontade para nós, ela é para o nosso bem e para o dos outros; é verdade, nós sofremos quando Deus não nos satisfaz em alguma coisa que lhe pedimos porque não é segundo a sua vontade, mas ao fim devemos sempre reconhecer que se Deus não nos satisfez quando o queriamos nós ou como queriamos nós, e se não nos deu aquela coisa particular, mas uma outra, Ele o fez exclusivamente para o nosso bem.

O apóstolo Paulo escreveu: "E, para que me não exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de me não exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2 Cor. 12:7-9). Também neste caso, como Paulo orou a Deus para fazer uma coisa que Deus não queria fazer, assim não foi ouvido por Deus; mas tudo isso pelo seu bem, para que permanecesse humilde e não se exaltasse. Caros irmãos, quando nós dizemos: ‘Seja feita a vontade do Senhor’ queremos dizer que estamos dispostos a fazer a vontade de Deus mesmo se ela não corresponde à nossa: portanto quando recebemos do Senhor uma resposta ‘negativa’ ou uma resposta que não corrresponde às nossas expectativas, não nos lamentemos, mas aceitemo-la com gratidão e submissão, sabendo que Deus é mais sábio do que nós e sabe perfeitamente o que é pelo nosso bem.

Moisés um dia, recordando a Israel as coisas que tinham acontecido durante a viagem no deserto, disse: "Também eu pedi graça ao Senhor no mesmo tempo (depois que Deus deu em poder de Israel Siom, rei de Hesbom e Ogue, rei de Basã), dizendo: Ó Senhor, o Eterno! Já começaste a mostrar ao teu servo a tua grandeza e a tua forte mão; porque, que Deus há nos céus e na terra, que possa obrar segundo as tuas obras, e segundo a tua fortaleza? Rogo-te que me deixes passar, para que veja esta boa terra que está dalém do Jordão, esta boa montanha, e o Líbano! Porém o Senhor indignou-se muito contra mim por causa de vós, e não me ouviu, antes me disse: Basta; não me fales mais neste negócio. Sobe ao cume de Pisga, e levanta os teus olhos ao ocidente, e ao norte, e ao sul, e ao oriente, e vê com os teus olhos; porque não passarás este Jordão...." (Deut. 3:23-27). Ora, Deus tinha dito a Moisés e a Arão, nas águas de Meribá (depois que Moisés feriu a rocha duas vezes em vez de falar como Deus lhe tinha ordenado): "Porquanto não me crestes a mim, para me santificar diante dos filhos de Israel, por isso não metereis esta congregação na terra que lhes tenho dado" (Num. 20:12), portanto Moisés conhecia o decreto de Deus, mas também quis suplicar-lhe para que lhe fosse concedido passar o Jordão. Deus, porém, desta vez não o ouviu; no entanto Moisés era um homem muito manso, um homem com quem Deus falava face a face, um homem de quem Deus deu este testemunho: "É fiel em toda a minha casa" (Num. 12:7).

Também o profeta Elias numa ocasião não foi ouvido por Deus, vejamos qual. A Escritura diz: "E Acabe fez saber a Jezabel tudo quanto Elías havia feito, e como totalmente matara todos os profetas à espada. Então Jezabel mandou um mensageiro a Elías, a dizer-lhe: Assim me façam os deuses, e outro tanto, se de certo amanhã a estas horas não puser a tua vida como a de um deles. O que vendo ele, se levantou, e, para escapar com vida, se foi, e veio a Berseba, que é de Judá, e deixou ali o seu moço. E ele se foi ao deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro; e pediu em seu ânimo a morte, e disse: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais!..." (1 Re 19:1-4), mas Deus não lhe arrebatou a sua alma e não o fez morrer como ele tinha pedido, porque Deus tinha estabelecido  transportá-lo para o céu sem lhe fazer ver a morte, e também porque Elias tinha ainda que cumprir serviços para o Senhor, de facto quarenta dias depois, no monte Horebe, Deus lhe disse: "Vai, volta pelo teu caminho para o deserto de Damasco; e vem, e unge a Hazael rei sobre a Síria. Também a Jeú, filho de Ninsi, ungirás rei de Israel; e também a Eliseu, filho de Safate de Abel-Meolá, ungirás profeta em teu lugar..." (1 Re 19:15,16).

Também o rei Davi, numa ocasião não foi ouvido por Deus. A Escritura diz que depois que Davi cometeu adultério com Bate-Seba e lhe fez morrer o marido, Deus enviou Natã a Davi para anunciar-lhe os seus juízos sobre ele e a sua casa. Natã, entre outras coisas, disse a Davi: "O filho que te nasceu certamente morrerá" (2 Sam. 12:14). "E o Senhor feriu a criança que a mulher de Urias dera a Davi, e adoeceu gravemente. E buscou Davi a Deus pela criança; e jejuou Davi, e entrou, e passou a noite prostrado sobre a terra" (2 Sam. 12:15,16). Mas Deus não o ouviu porque "sucedeu que ao sétimo dia morreu a criança" (2 Sam. 12:18). Também neste caso, Deus poderia se render às orações de Davi, mas Ele recusou ouvi-lo. Que diremos, depois de ter citado estes exemplos de orações não ouvidas por Deus? Porventura que Deus é injusto e impiedoso? Assim não seja. Nós sabemos e proclamamos que Deus é justo e cheio de compaixão; mas não só quando nos ouve, mas também quando não nos ouve.

Deus quer nos dar coisas boas, disto estamos certos; mas ele quer também que nós lhe as peçamos, de facto Jesus disse: "Pedi..." (Mat. 7:7) e também: "Se vós pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem? " (Mat. 7:11). Vede irmãos, o facto de Deus conheçer as coisas das quais nós temos necessidade, antes de lhe pedirmos, não significa que não há necessidade de nós lhe as pedirmos, doutra forma Jesus não nos teria ordenado de pedir. Portanto, também o pedir é uma ordem e não algo de facultativo. O Senhor ordenou pedir e prometeu dar aos que lhe pedem, de facto Jesus disse: "Pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra" (João 16:24). Nós testificamos a veracidade destas palavras, porque as experimentamos muitas vezes; todas as vezes que nos encontramos em necessidade, o nosso coração desfalece, mas depois que pedimos a Deus para suprir à nossa necessidade e que recebemos o que lhe tinhamos pedido, ele se encheu de grande alegria, tanto de fazer-nos exclamar a Deus: "Puseste alegria no meu coração, mais do que no tempo em que se multiplicaram o trigo e o vinho deles" (Sal. 4:7). Sim, o Senhor é fiel, e ainda hoje vela sobre a sua palavra para cumpri-la. Alguem dirá: ‘Mas o que posso e devo pedir a Deus?’ Tudo aquilo de que tens necessidade, porque está escrito: "Não estejais inquietos por coisa alguma, antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica.." (Fil. 4:6), e ainda: "Humilhai-vos pois debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós" (1 Ped. 5:6,7). Dilectos, sabei que Deus, não só sabe as coisas de que vós tendes necessidade, mas quer também suprir a todas as vossas necessidades (segundo as suas riquezas e com glória), porque Ele tem cuidado de vós. Não penseis que Deus esteja longe de vós e que não lhe interessa nada de vós, e nem ainda penseis que haja alguma coisa que Ele não possa fazer por vós. O nosso Deus a quem servimos é grande "e a sua grandeza inescrutável" (Sal. 145:3); "imenso é o seu poder" (Sal. 147:5), por isso achegai-vos com plena confiança ao seu trono, recordando que foi Ele que formou e plantou os ouvidos no homem (portanto não pode não ouvir-vos quando lhe orais), e também que foi ainda Ele que fez os céus, a terra, o mar e todas as coisas que há neles (portanto não há alguma coisa demasiado difícil para Ele). Paulo escreveu que Deus é "Aquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera" (Ef. 3:20); ah!... que Deus ilumine os olhos do nosso coração, para que saibamos "qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos" (Ef. 1:19)! Agora quero dizer-vos o que muitos pediram e receberam.

Há os que pediram a Deus o Espírito Santo e o receberam, e se cumpriu a palavra que diz: "Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?" (Lucas 11:13); há os que depois de ter recebido o Espírito Santo oraram a Deus para poder interpretar o que eles diziam em outra língua (conforme está escrito: "O que fala em outra língua, ore para que possa interpretar" [1 Cor. 14:13]), e Deus os ouviu; há os que pediram a Deus também outros dons do Espírito Santo, e Deus os ouviu cumprindo o desejo dos seus corações; há os que pediram a Deus sabedoria e Deus a lhes deu, conforme está escrito: "E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada" (Tiago 1:5); há os que, no meio da sua doença, oraram a Deus para curá-los (como fez Jeremias quando disse: "Sara-me, Senhor, e sararei" [Jer. 17:14]), e pela sua fé foram sarados por Deus, e se cumpriu neles a palavra que diz: "Então clamaram ao Senhor na sua angústia, e ele os livrou das suas necessidades. Enviou a sua palavra, e os sarou; e os livrou da sua destruição" (Sal. 107:19,20), e também aquela que diz: "Pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is. 53:5); há os que, desejosos de casar, pediram a Deus uma mulher prudente e a receberam, e se cumpriu neles a palavra que diz: "Deus faz que o solitário viva em família" (Sal. 68:6); dilectos, sabei que "do Senhor vem a mulher prudente" (Prov. 19:14), e que os que a pediram e receberam, ainda hoje se alegram e dão graças a Deus por ela. Há os que não podendo ter filhos, os pediram a Deus, sabendo que "os filhos são herança do Senhor" (Sal. 127:3), e no tempo fixado por Deus os receberam; há os que depois ter recebido a carta de despejo, rogaram a Deus uma casa e Deus os ouviu; há os que pediram a Deus para lhes revelar o ministério a cumprir e Deus os ouviu, confirmando depois na presença dos fiéis e por meio dos fiéis de os ter chamado para aquele determinado ministério; há os que pediram a Deus para lhes revelar onde ir pregar o Evangelho (o lugar preciso, como a nação, a região, a cidade) e Deus os ouviu, e se cumpriu a palavra que Deus disse a Jeremias: "Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e impenetráveis, que não sabes" (Jer. 33:3). Há muitos e muitos outros exemplos que poderia citar-vos para confirmar-vos que Deus é fiel e que "todas quantas promessas há de Deus, são nele sim" (2 Cor. 1:20), mas considero que estas aqui supracitadas são suficientes por agora. Irmãos, vos exorto a dobrar os vossos joelhos e a orar a Deus com fé, por qualquer coisa de que sentis necessidade para vós e para os outros. No curso dos séculos, todos os que pediram a Deus alguma coisa segundo a sua vontade para com eles foram ouvidos. É grandíssimo o número daqueles que obedeceram à Palavra de Deus e receberam o bem abundantemente, mas é grande também o número daqueles que embora sabendo que Deus dá coisas boas aos que as lhe pedem, não pedem a Deus e não recebem, e se cumpre neles o que escreveu Tiago: "Nada tendes, porque não pedis" (Tiago 4:2).

Irmão, tu nunca deves dizer, quando oras a Deus para obter alguma coisa de particular: ‘Esta oração não é segundo a vontade de Deus porque não conheço ninguém da igreja da qual sou membro que a tenha alguma vez  feito’, ou: ‘Esta oração não é segundo a vontade de Deus porque o pastor da comunidade nunca disse de ter alguma vez pedido uma tal coisa a Deus’, ou: ‘Esta oração que estou fazendo não pode ser segundo a vontade de Deus, porque aquele evangelista muito famoso nunca disse de tê-la feito a Deus’, ou: ‘Não há nada de semelhante que me é lícito pedir a Deus no estatuto da minha denominação’. Não é assim que perceberás se a oração que estas fazendo a Deus é segundo a vontade de Deus ou não. Antes de tudo, examina cuidadosamente as Escrituras para ver se outros antes de ti na antiguidade pediram a mesma coisa ou alguma coisa semelhante, e se assim foi, persevera na tua oração à espera da resposta de Deus. Além disso, sabe estas coisas; talvez nunca nenhum membro da comunidade que frequentas tenha tido o mesmo desejo que tu; talvez nenhum membro da comunidade que frequentas tem a mesma medida de fé que Deus te deu a ti. Pode ser também que os outros irmãos, não conhecendo as Escrituras julguem erradamente o teu bom desejo, e te reputam mesmo de estranho; mas tu não temas irmão, ora a Deus com fé, observando os seus mandamentos, persevera na oração sem dar ouvidos a todas aquelas vozes que quereriam calar-te. Recorda-te que quando a Bartimeu, cego mendigo, lhe fizeram saber que passava Jesus o Nazareno, ele clamou: "Jesus, filho de Davi! Tem misericórdia de mim!" (Mar. 10:47), mas a multidão se pôs a repreendê-lo para que se calasse, mas ele se pôs a clamar mais forte. Sabes o que aconteceu então? Aconteceu que Jesus, parando, mandou que o trouxessem a ele, e quando ele chegou por perto lhe deu a vista, aquilo que ele desejava receber. Um cego queria que Jesus tivesse misericórdia dele; não queria vestidos luxuosos, não queria riquezas e nem tampouco queria se tornar famoso, mas queria ver com os seus olhos, um desejo lícito para um cego,  no entanto houveram aqueles que quando o ouviram clamar: "Jesus, filho de Davi! Tem misericórdia de mim!" (Mar. 10:47), se puseram a repreendê-lo para fazê-lo calar. Irmão, também tu começarás a ser repreendido e reputado como alguém que perturba a comunidade, quando começares a clamar a Deus para que faça sinais e prodígios para trazer à obediência da fé os pecadores, ou quando começares a desejar ardentemente os dons espirituais como fizeram os antigos discípulos do Senhor, mas sabe que não estás de modo nenhum perturbando Deus, mas somente crentes que dormem e não querem acordar ou alguém que quer ter o primado como Diótrefes. Te posso dizer por experiência que se tu te humilhas diante de Deus e buscas a sua face, e com fé começas a pedir a Deus coisas espirituais necessárias para a edificação da igreja, terás todos os que no seio da irmandade caminham segundo as concupiscências mundanas contra ti; eles te entristecerão com as suas palavras amargas e com a sua indiferença para com as coisas espirituais, mas tu não desistas, não te rendas, não te resignes, recorda-te que para o nosso Deus não há nada demasiado difícil, e que não és o primeiro crente que faz aquele específico pedido a Deus porque outros que tu não conheces o fizeram a Deus e foram a seu tempo ouvidos. Recorda-te, tu que temes a Deus e o amas e o buscas continuamente com todo o coração, que há os que não tendo nunca querido conhecer o poder de Deus e o poder das suas obras e não tendo nunca desejado os dons do Espírito Santo e nem que o Senhor lhes revelasse alguma coisa de útil, não querem também que outros desejem estas coisas, e assim sucede que os que não receberam porque não pediram desprezam e querem calar os que querem receber as coisas "que Deus preparou para os que o amam" (1 Cor. 2:9; Is. 64:4).

Vejamos agora algumas petições que poderiam parecer ‘não segundo a vontade de Deus’ a alguém que se encontrasse alí a ouvi-las enquanto eram feitas, mas que foram ouvidas por Deus porque feitas com plena certeza de fé e de acordo com a sua vontade.

Está escrito: "Elias era um homem sujeito às mesmas paixões que nós, e, orando, pediu que não chovesse, e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra" (Tiago 5:17). Alguem dirá: ‘Como! Um homem orou para que não chovesse e Deus o ouviu? Mas como é possivel uma tal coisa? Certo, é mais fácil ouvir que alguém tenha orado para que chovesse do que ouvir que alguém tenha orado para que não chovesse; mas isto nada diminui à oração de Elias, homem de Deus. Para perceber porque Elias orou daquela maneira, é preciso examinar qual era a conduta do rei que reinava sobre Israel no seu tempo e a do povo de Israel no meio do qual vivia Elias. A Escritura nos ensina que nos dias de Elias, o povo d´Isreal tinha abandonado Deus e tinha dobrado os seus joelhos diante de Baal e a sua boca o tinha beijado, excepto um resíduo de sete mil pessoas. Além disso os filhos de Israel tinham demolido os altares do Senhor e tinham morto os profetas de Deus. Também Acabe e sua mulher eram blasfemadores, de facto está escrito: "Porém ninguem fora como Acabe, que se vendera para fazer o que era mau aos olhos do Senhor, porque Jezabel, sua mulher o incitava. E fez grandes abominações, seguindo os ídolos, conforme a tudo o que fizeram os amorreus, os quais o Senhor lançou fora da sua possessão, de diante dos filhos de Israel" (1 Re 21:25,26). Como podeis ver os pecados do povo de Israel eram graves e mereciam uma punição. Deus tinha avisado os Israelitas na lei, dizendo-lhes: "Mas se me não ouvirdes, e não fizerdes todos estes mandamentos, e se rejeitardes os meus estatutos...quebrantarei a soberba da vossa força, e farei que os vossos céus sejam como ferro e a vossa terra como cobre" (Lev. 26:14,15,19). Elias conhecia este aviso de Deus, portanto não é de admirar se orou ardentemente para que não chovesse e Deus o ouviu. Cuidai que não estou a dizer-vos para orar para que não chova sobre os ímpios, mas só que por alguns particulares motivos e necessidades, alguém, também hoje, pode ser inspirado pelo Espírito a orar para que não chova por um determinado tempo num determinado lugar e Deus o ouça.

Houve um outro profeta que pediu a Deus para fazer coisas particulares numa específica circunstância: Eliseu. A Escritura diz que o rei da Síria, quando soube por um dos seus servos que Eliseu fazia saber ao rei de Israel até as palavras que ele dizia no quarto onde dormia, mandou prender Eliseu. O rei enviou a  Dotã (onde tinha ouvido que estava Eliseu) cavalos, carros e grande numero de soldados, os quais chegaram de noite e cercaram a cidade. "Tendo o servo do homem de Deus se levantado muito cedo, saiu, e eis que um exército tinha cercado a cidade com cavalos e carros. Então o servo disse ao homem de Deus: Ai, meu senhor! que faremos? Respondeu ele: Não temas; porque os que estão conosco são mais do que os que estão com eles. E Eliseu orou, e disse: Ó senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do servo, e ele viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo em redor de Eliseu. Quando os sírios desceram a ele, Eliseu orou ao Senhor, e disse: Fere de cegueira esta gente, peço-te. E o Senhor os feriu de cegueira, conforme o pedido de Eliseu. Então Eliseu lhes disse: Não é este o caminho, nem é esta a cidade; segui-me, e guiar-vos-ei ao homem que buscais. E os guiou a Samária. E sucedeu que, chegando eles a Samária, disse Eliseu: Ó Senhor, abre a estes os olhos para que vejam. O Senhor lhes abriu os olhos, e viram; e eis que estavam no meio de Samária" (2 Re 6:15-20). Depois que Eliseu pôs diante daqueles soldados pão e água, o rei de Israel os despediu, "e foram para seu senhor. E as tropas dos sírios desistiram de invadir a terra de Israel" (2 Re 6:23), diz a Escritura. Como podeis ver, Eliseu orou a Deus para fazer uma coisa de particular tanto para com o seu servo como para com os Sírios. Alguém dirá: ‘Para que serviram estas orações de Eliseu? Elas serviram, para que o seu servo, ao ver o monte cheio da cavalos e de carros de fogo, ficar descansado, enquanto aquilo que aconteceu aos Sírios fez que "as tropas dos sírios desistiram de invadir a terra de Israel" (2 Re 6:23). Nós, do nosso canto, não podemos não reconhecer, ainda uma vez, que "a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos" (Tiago 5:16).

E vejamos agora o que pediu Gedeão a Deus. A Escritura diz: "Disse Gideão a Deus: Se hás de livrar a Israel por minha mão, como disseste, eis que eu porei um velo de lã na eira; se o orvalho estiver somente no velo, e toda a terra ficar enxuta, então conhecerei que hás de livrar a Israel por minha mão, como disseste. E assim foi; pois, levantando-se de madrugada no dia seguinte, apertou o velo, e espremeu dele o orvalho, que encheu uma taça. Disse mais Gideão a Deus: Não se acenda contra mim a tua ira se ainda falar só esta vez. Permite que só mais esta vez eu faça prova com o velo; rogo-te que só o velo fique enxuto, e em toda a terra haja orvalho. E Deus assim fez naquela noite; pois só o velo estava enxuto, e sobre toda a terra havia orvalho" (Juízes 6:36-40). Alguém dirá: Deus tinha já falado a Gedeão dizendo-lhe: "Vai nesta tua força, e livra a Israel da mão de Midiã... Porquanto eu hei de ser contigo, tu ferirás aos midianitas como se fossem um só homem" (Juízes 6:14,16), porque pois Gedeão pediu aqueles sinais a Deus? Gedeão viu que tinha necessidade de pedi-los a Deus, e eu não me sinto de criticar de modo algum Gedeão pelo seu comportamento. Quero recordar-vos porém que Gedeão dalí a pouco teria que ir combater contra um exército de cerca de cento e trinta e cinco mil Medianitas com unicamente trezentos homens. Dai-vos conta que ele devia ter as suas mãos bem fortalecidas e que aqueles sinais que ele pediu a Deus lhes as fortaleceram. Ninguém pode dizer que Gedeão tentou Deus, pedindo-lhe aqueles sinais, porque Gedeão não pediu aqueles sinais para tentar Deus, mas para que Deus lhe confirmasse que queria salvar Israel pela sua mão. Alguns definiram o de Gedeão ‘um pobre exemplo a imitar’; mas eu me pergunto: ‘O que teriam feito os que acharam culpa também no comportamento de Gedeão, ao ver toda aquela multidão de Medianitas? Alguns falam ter fé em Deus, e depois, em vez de pedir o dinheiro de que necessitam a Deus no seu quarto, esperando que ele proveja, o extorquem aos crentes com astúcia (eles sabem como fazer), e depois ouves justamente eles dizer que pedir sinais a Deus não se adequa a nós que cremos em Cristo, porque é uma falta de confiança em Deus. No entanto, Deus ouviu Gedeão, e o que ele pediu a Deus e fez por Israel está escrito, e nos serve de ensinamento. Quereria que notasseis além disso que Deus, depois que concedeu aqueles sinais a Gedeão, o enviou ao arraial de Midiã para ouvir um sonho que um Midianita tinha tido e a sua interpretação. Porque é que Deus quis que Gedeão ouvi-se aquele sonho divino e a sua interpretação que anunciavam a destruição de Midiã? Para fortalecer as suas mãos de facto lhe tinha dito: "Ouvirás o que dizem, e serão fortalecidas as tuas mãos para desceres contra o arraial" (Juízes 7:11). E depois o que dizer? Gedeão, na epístola aos Hebreus, esta incluido entre aqueles que tiveram "um bom testemunho pela sua fé" (Hebr. 11:39); ele está entre aqueles que pela fé "tornaram-se poderosos na guerra" (Hebr. 11:34) e "puseram em fuga exércitos estrangeiros" (Hebr. 11:34). Agradaria a Deus que no seu povo houvessem muitos mais homens valorosos como Gedeão, dispostos (também depois de ter pedido sinais a Deus) a servi-lo num determinado ministério com consciência pura, renunciando às coisas ocultas e vergonhosas; sim, precisamente aquelas coisas das quais os corruptos se gloriam mas que se tornam a sua vergonha. Irmãos, não é pecado pedir sinais a Deus para sermos confirmados numa determinada obra que nos preparamos para fazer para a glória de Deus. Há um modo de falar por parte de alguns que ensinam a palavra de Deus que além de não ser claro, deixa perceber a sua incredulidade em determinadas coisas e a sua aversão a elas. Parece mesmo que não querem falar de visões, sonhos, sinais, como se a Escritura as definisse ‘coisas sem importância’, ou ‘coisas de não ousar pedir a Deus’, ou ‘coisas más das quais nos devemos guardar’. A verdade é que muitos nunca experimentaram muitas coisas, porque também nunca deram a importância que têm, e por isso falam contra elas e querem fazer perceber que para os antigos aquelas coisas iam bem, mas para nós que somos ‘modernos’ não. Muitos julgam erradamente os pedidos particulares de alguns irmãos e irmãs sinceros e fiéis a Deus, porque não têm a mesma fé ou porque consideram que Deus não seja capaz de ouvi-los ou que tenha deixado de agir como fazia antigamente. É sempre Deus depois, a demonstrar a sua imutabilidade e que "o desejo dos justos será concedido" (Prov. 10:24) e que "assim é o seu andar desde a eternidade" (Hab. 3:6). Houveram crentes que pensavam que Deus tivesse cessado de comunicar o dom do Espírito Santo e depois se arrependeram; houveram aqueles que pensavam que Deus não curasse mais como outrora e depois se arrependeram; houveram aqueles que pensavam que o Espírito Santo tivesse deixado de distribuir os seus dons com a morte dos apóstolos e depois se arrependeram; houveram aqueles que pensavam que Deus tivesse deixado de falar por via de sonhos e de visões nos nossos dias e depois se arrependeram; houveram aqueles que pensavam que pedir sinais a Deus como fizeram os antigos não era mais para nós e depois se arrependeram. Não é a primeira vez que aqueles que eram reputados ‘crentes que tinham perdido a razão’ (por causa da sua fé em Deus) ou ‘sonhadores e visionários’ (por causa das palavras que Deus lhes revelava), depois foram declarados sãos na mente e na fé (ainda que não tivessem necessidade, porque já o eram). Dilectos, crede nas sagradas e fiéis promessas de Deus, e não nos vãos raciocínios de alguns que não caminham segundo o Espírito.

Como Jesus ensinou a orar

Vejamos agora como Jesus ensinou orar aos seus discípulos: Ele disse: "E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes " (Mat. 6:7,8).

Antes de tudo, Jesus nos ordenou de não usar, quando oramos, excessivas palavras, como fazem os que não conhecem Deus. Uma das características das orações dos que não conhecem Deus é o de serem excessivamente longas; eles oram por horas inteiras repetindo mecanicamente as variadas orações que estão escritas nos seus livros, e isto pode-se ver também nesta nação. Mas o que leva assim tantas pessoas a orar desta maneira? O pensamento de serem ouvidos por causa das suas muitas palavras. Ora, Jesus nos disse: "Tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis" (Mat. 21:22), e não  ‘se orais com muitas palavras’; isto vo-lo digo para que nenhum entre vós pense que quanto mais são as palavras que se dirigem a Deus mais possibilidades existem de sermos ouvidos. "Vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes" (Mat. 6:8), disse Jesus, portanto não é preciso muitas palavras quando nos dirigimos ao Senhor nas nossas angústias. Davi disse a Deus nos salmos: "Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces" (Sal. 139:4); isto demonstra que o nosso Deus sabe perfeitamente o que lhe pediremos em oração, ainda antes que formulemos a nossa oração. Se por um lado Jesus disse como não devemos orar, por outro disse também como ao invés nós devemos orar. Ele disse: "Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dá hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos induzas à tentação; mas livra-nos do maligno" (Mat. 6:9-13). Irmãos, tende presente que esta oração a ensinou Aquele que antes de vir a este mundo estava junto do Pai. Nós sabemos que o Filho de Deus deu testemunho daquilo que ouviu junto de seu Pai, portanto também estas palavras por ele nos ensinadas são Palavra de Deus. Não subavalieis esta oração porque a sua eficácia, quando é dirigida a Deus com um coração puro e com fé, não foi minimamente diminuida no curso dos séculos, por que a ensinou Jesus.

Quero dizer-vos a respeito desta oração algumas coisas, a primeira das quais é que nós quando nos dirigimos a  Deus em oração, o devemos chamar ‘Pai nosso’, e não ‘papá’. Digo isto porque alguns no meio de nós começaram a exprimir-se com Deus de maneira confidencial, até a chamá-lo exactamente ‘papá’. Não é chamando Deus ‘papá’ que se mostra reverência e temor para com ele. Vede, hoje, alguns pensam que porque nós somos filhos de Deus, nós temos o direito de chamar a Deus ‘papá’. Eu considero que nós não devemos tomar-nos de confidencias com Deus, se bem que Ele seja o nosso Pai celestial, Aquele que nos gerou pela sua palavra. Jesus, na noite em que foi traido, quando se dirigiu ao Pai, o chamou ‘Pai santo’ e ‘Pai justo’. É verdadeiramente entristecedor ver como alguns se permitem esta excessiva familiaridade com Deus, mas também disto não há por que ficar perplexo, porque hoje muitos esqueceram-se de quem é Deus, e a palavra que diz: "Sirvamos a Deus agradavelmente com reverência e piedade; porque o nosso Deus é um fogo consumidor" (Hebr. 12:28,29). Jacó chamou Deus ‘o Temor de Isaque’; Asafe o chamou ‘o Tremendo’, enquanto alguns hoje o chamam ‘papá’. Mas destas passagens estes se esqueceram como as crianças que chamam o seu pai ‘paizinho’ e se põem a brincar com ele, pensando poder também escarnecer dele! Chamam a Deus ‘papá’, e andam vestidos de maneira extravagante e indecente; mas não só, quando se põem a orar, alguns deles se põem a orar com as mãos no bolso, e recusam ajoelhar-se diante de Deus. Mas dizei-me: ‘Que atitudes são estas? Não são porventura atitudes que são próprias daqueles que não querem cumprir a sua salvação com temor e tremor? Me doi em constatar que os pagãos que se prostam diante dos seus ídolos mudos mostram mais reverência e mais temor para com as suas obras mortas que adoram e oram, do que quanto mostram alguns crentes com o Deus vivo e verdadeiro. Julgai por vós mesmos aquilo que digo.

Nós, como filhos de Deus, queremos que o nome de Deus seja santificado por meio de nós. Deus, na lei, disse: "Serei santificado naqueles que se cheguem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo" (Lev. 10:3); ora, para que o nome de Deus seja santificado, nós que agora estamos perto a Ele (nós estávamos longe de Deus, mas agora, em Cristo Jesus chegamos perto de Deus) devemos observar os seus mandamentos, portanto, dizer a Deus: "Seja santificado o teu nome" (Mat. 6:9), mas recusar ao mesmo tempo de obedecer-lhe, significa mentir-lhe.

Segundo aquilo que ensina a Escritura, o reino do mundo, um dia, virá a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e nós reinaremos sobre a terra. Ainda tudo isso não se cumpriu, mas nós sabemos que esse dia se está aproximando rapidamente; sim, este é o nosso desejo, que o Reino de Deus venha, por isso dizemos a Deus: ‘Venha o teu reino’.

Além disso desejamos também que a vontade de Deus seja feita na terra como é feita no céu. Que fazem os santos anjos no céu? Que fazem os justos no céu? Eles cumprem a vontade de Deus, porque louvam a Deus e o servem. Não é porventura o que nós crentes devemos fazer na terra? Nós dizemos a Deus: ‘Seja feita a tua vontade’, porque queremos que Ele cumpra a sua vontade em nós.

"O homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor" (Deut. 8:3; Mat. 4:4); isto significa que nós não devemos só alimentar-nos de pão, mas também da Palavra de Deus, ouvindo-a e observando-a. Ora, o pão é necessário comê-lo para viver, Deus o sabe, e quer que nós lhe o  peçamos. Jesus disse: "Pedi, e dar-se-vos-á " (Mat. 7:7), portanto, ao nosso pedido de alimento Deus nos responde dando-nos o alimento necessário. O salmista disse a Deus: "Todos esperam de ti, que lhes dês o seu sustento em tempo oportuno. Dando-lho tu, eles o recolhem " (Sal. 104:27,28); considerai quanto é grande a bondade de Deus! Ele toma conta de todas as aves da floresta e de todos os peixes do mar, dando também a eles o sustento que necessitam. Se Deus não descura na assistência quotidiana os animais que fez, como poderemos pensar que Ele nos descure a nós que somos seus filhos? Nós valemos "mais do que muitos passarinhos" (Mat. 10:31), e valemos mais que qualquer animal que Deus fez, por isso temos nele a firme confiança que Ele não nos fará faltar o pão de cada dia.

Dilectos, "todos tropeçamos em muitas coisas" (Tiago 3:2), por esta razão devemos pedir a Deus para nos perdoar as nossas dívidas. As nossas faltas que cometemos são chamadas dívidas porque infringir a palavra de Deus significa constituir-se diante dela devedor. Mas graças damos a Deus porque quando nós vamos a ele para confessar-lhe as nossas dívidas pedindo-lhe para perdoá-las, obtemos a remissão delas. Porventura não é esta uma clara demonstração da fidelidade de Deus? Mas Deus não é só fiel mas também justo, porque se nós não perdoarmos as dívidas aos nossos devedores (isto é, se não perdoamos aos homens as suas faltas), tambem Ele não nos perdoará as nossas, portanto cuidemos de nós mesmos e perdoemos aos homens as suas faltas, se não queremos que Deus nos faça pagar as nossas dívidas até ao último centavo!

Nós sabemos que o diabo é o tentador e que como tentou o Filho de Deus nos dias da sua carne, assim tenta a nós. É impossível não ser tentado pelo diabo, mas não é impossível não cair em tentação, por isso devemos pedir a Deus para não nos expor à tentação e de libertar-nos do maligno. Vede, Deus permite que nós sejamos tentados (considerai que Deus permitiu que também o seu Filho fosse tentado), mas não permitirá que nós sejamos tentados para lá das nossas forças, de facto Paulo diz: "Mas fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar" (1 Cor. 10:13). Portanto, Deus prometeu dar-nos o caminho de escape para não cair em tentação. Cuidai porém que o facto de Deus nos dar o escape para suportar a tentação não significa que da nossa parte, Deus não peça nenhum esforço para não cair nela, doutra forma Jesus não teria dito: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação " (Mar. 14:38), e também: "Orai, para que não entreis em tentação" (Lucas 22:40). Nós muitas vezes não nos recordamos que para não cair em tentação, não só devemos vigiar, mas devemos também orar, pedindo a Deus para não entrar em tentação.

Devemos orar em vez de estarmos ansiosos

Irmãos, há uma exortação do apóstolo Paulo na sua epístola aos Filipenses, à qual faremos bem dar atenção, se queremos viver uma vida tranquila.

Paulo escreveu: "Perto está o Senhor. Não estejais ansiosos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com acção de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus" (Fil. 4:6,7). Antes de tudo, o nosso Senhor está perto de nós e não longe de nós. Isto nos tranquiliza em todas as nossas angústias e em todas as nossas aflições. Davi diz que "perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado" (Sal. 34:18) e "perto de todos os que o invocam em verdade" (Sal. 145:18), portanto, dilectos, no meio de todas as vossas necessidades recordai-vos destas palavras, porque elas são fonte de consolação para a alma aflita. Ora, é justamente porque o Senhor está perto de nós que nós não nos devemos fazer agitar pela ânsia que queria apoderar-se de nós. Que necessidade há de preocuparmo-nos com o futuro, quando sabemos que Deus está conosco e é por nós? Vede, quando se começa a estar com ansiedade solícitos de qualquer coisa, a perturbação e a angústia descem contra a nossa alma e conseguem a tirar-nos a tranquilidade que é fruto da nossa absoluta e inabalável confiança em Deus; por esta razão o adversário procura fazer-nos desobedecer também a este mandamento de não estarmos ansiosos por coisa alguma. Nós não ignoramos as maquinações de Satanás, por esta razão nos devemos guardar de nos tornarmos anciosos, para não dar lugar nem ao medo e nem à dúvida que nos destruiria.

Se por um lado não devemos estar ansiosos por coisa alguma, pelo outro devemos fazer conhecidas a Deus em oração todas as nossas petições. Paulo diz: "As vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus" (Fil. 4:6), portanto não existe qualquer necessidade nossa que não interessa a Deus, ou pela qual é inútil orar. Não importa de que coisa temos necessidade; Deus quer que nós lancemos sobre ele todas as nossas solicitudes, e não só uma parte. De que maneira devemos fazer conhecidas a Deus as nossas petições? "Pela oração e súplica, com acção de graças" (Fil. 4:6), disse Paulo; isso significa que enquanto oramos a Deus pelas nossas necessidades devemos também dar-lhe graças por todas as coisas, sim porque na oração nós devemos velar "com acção de graças" (Col. 4:2). Se nós obedecermos a esta exortação teremos bem abundantemente, porque Deus fará reinar a paz nos nossos corações e nas nossas mentes, e esta paz protegerá os nossos corações e as nossas mentes de todas as ciladas do inimigo, durante a espera do auxílio divino.

Orar de mútuo consentimento

Irmãos, quando nós oramos a Deus juntos, devemos estar de mútuo consentimento, para ser ouvidos por Deus. Jesus disse: "Se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mat. 18:19,20). Jesus disse que o seu Pai ouvirá os que se põem de acordo em pedir qualquer coisa a Deus: como podeis ver, nestas suas palavras, o ‘se’ explica qual é a condição à qual a oração feita com outros será ouvida por Deus.

Há um exemplo de oração feita de mútuo consentimento no livro dos actos dos apóstolos; é a oração que os antigos discípulos fizeram, quando Pedro e João vieram junto deles depois que foram ameaçados pelo Sinédrio, de facto está escrito que eles "unânimes levantaram a voz a Deus" (Actos 4:24). Nesta oração eles pediram a Deus para conceder aos seus servos que anunciassem a sua palavra com franqueza e para estender a sua mão para curar e para que se fizessem sinais e prodígios pelo nome de Jesus Cristo, e Deus ouviu aquela oração.

A oração feita juntamente com outros (como também a feita sozinho) deve ser feita a Deus em nome de Jesus Cristo. As Escrituras que testificam isto são as seguintes:

Ÿ "Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há de dar. Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra" (João 16:23,24);

Ÿ "Vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda" (João 15:16);

Ÿ "Tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei " (João 14:13);

Ÿ "Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei " (João 14:14).

Recordai-vos que Jesus Cristo é o Sumo Sacerdote da nossa profissão de fé e que ele está à direita de Deus e intercede por nós. Jesus ora a Deus em nosso favor, porque Ele faz de mediador entre Deus e nós, esta é a razão pela qual nós devemos orar a Deus em seu nome. Se nós orassemos a Deus em nome de Paulo ou de Pedro não obteriamos nenhuma resposta de Deus, porque eles, embora habitem com o Senhor nos lugares celestiais, não podem mediar entre Deus e nós. Eles não podem ouvir as nossas orações e transmiti-las a Deus, portanto é absurdo e ilusório nos apoiarmos nas suas mediações. Muitos homens e muitas mulheres em todo o mundo pensam que Maria, a mãe de Jesus, intercede por eles junto de Deus: o diabo os seduziu, fazendo-os crer na mentira. Maria, no céu não pode tomar nem sequer uma sílaba das orações dos homens e levá-la a Deus, porque está escrito: "Há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem..." (1 Tim. 2:5). Nós, pela graça de Deus, temos o previlégio de nos achegarmos a Deus, o Omnipotente, em nome do seu Filho, e a firme confiança que Ele acolhe as nossas súplicas. A Deus seja a glória eternamente. Amen.

Orar pelo Espírito

Há algumas passagens nas Escrituras que falam de uma particular oração, que é a feita pelo Espírito; as passagens são estas:

Ÿ "Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica pelo Espírito;..." (Ef. 6:18)

Ÿ "Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando pelo Espírito Santo, conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus..." (Judas 20,21).

 Quem ora pelo Espírito Santo, ora a Deus em uma língua estrangeira (nunca aprendida; da qual ele portanto não conhece nem os verbos nem as palavras, nem a sintaxe e nem sequer a fonética). As Escrituras que testificam aquilo que vos digo são estas:

Ÿ "E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos" (Rom. 8:26,27)

Ÿ "Se eu orar em língua estranha, o meu espírito ora bem, mas o meu entendimento fica sem fruto... Orarei com o espírito.." (1 Cor. 14:14,15).

Ora, há muitas coisas que o homem não sabe fazer; uma delas é orar, de facto Paulo diz que "não sabemos o que havemos de pedir como convém" (Rom. 8:26). Qual é a razão pela qual Paulo fez esta afirmação? A razão é esta: nós, como seres humanos, quando oramos, não conseguimos  com as nossas palavras exprimirmo-nos de maneira adequada, de facto muitas vezes queremos dizer tantas coisas a Deus que sentimos interiormente de lhe pedir por nós, mas por causa da nossa fraqueza (recordai-vos que nós habitamos num corpo fraco) não conseguimos, porque não sabemos como dizer-lhe. Esta é a razão pela qual muitas vezes dizemos a Deus em oração: ‘Senhor, eu não sei como te dizê-lo!’. Além disso, nós não sabemos quais são as coisas de que têm urgente necessidade, em um determinado tempo e lugar, os irmãos que não conhecemos. Mas Deus, conhecedor dos limites do nosso corpo e da nossa mente, (isto é das nossas fraquezas), enviou o Espírito Santo para socorrer a esta fraqueza humana. Mas de que maneira o Espírito supre a esta falta de conhecimento e de expressões apropriadas e satisfatórias? Intercedendo Ele mesmo pela boca daqueles que foram batizados com o Espírito Santo, de facto quando um crente cheio do Espírito fala em outra língua, o Espírito Santo não está fazendo mais que orar por ele e pelos santos, pedindo a Deus para fazer coisas que tanto ele como outros crentes têm necessidade. O Espírito ora a Deus para suprir tanto as nossas necessidades espirituais como as materiais; Ele conhece todas as coisas (portanto também todas as necessidades de qualquer um dos santos que estão sobre a terra), e sabe orar como convém. Somos nós que não sabemos todas as coisas e não sabemos sequer como nos exprimir com  Deus porque nos faltam as palavras, mas o Espírito tendo um conhecimento ilimitado e não tendo de modo nenhum falta de palavras, pode orar como convém por todos os santos. Oh, quão maravilhosos são os caminhos de Deus!

Orar e jejuar

Na sagrada Escritura, diversas vezes a oração vem mencionada juntamente ao jejum (vos recordo que jejuar significa abster-se de comer e de beber por um determinado tempo).

Ÿ No livro de Esdras, a propósito da volta dos exilados Israelitas da Babilónia junto com Esdras, está escrito: "Então apregoei ali um jejum junto ao rio Aava, para nos humilharmos diante da face do nosso Deus, para lhe pedirmos uma boa viagem para nós, e para nossos filhos, e para toda a nossa fazenda... Nós, pois, jejuamos, e pedimos isto ao nosso Deus; e ele atendeu às nossas orações." (Esd. 8:21,23)

Ÿ No livro de Neemias está escrito que depois que Neemias veio a saber, por alguns Judeus que tinham chegado junto dele, em que condições se encontravam seja os que restaram do cativeiro seja o muro de Jerusalém, ele se pôs a jejuar e a orar, de facto ele mesmo escreveu: "E sucedeu que, ouvindo eu estas palavras, assentei-me e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus" (Neem. 1:4). A oração de Neemias foi ouvida por Deus, porque o rei Artaxerses, junto do qual ele servia, lhe concedeu de voltar a Jerusalém por um determinado tempo, para reconstruir os muros da cidade santa. Estes são exemplos tirados das Escrituras do antigo concerto que mostram como debaixo da lei, em algumas circunstâncias, à oração era associado o jejum.

Também debaixo da graça é justo orar e jejuar ao mesmo tempo. As Escrituras do novo concerto que confirmam isso são as seguintes:

Ÿ No livro dos actos dos apóstolos está escrito: "E na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé e Simeão, chamado Niger, e Lúcio cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes o tetrarca, e Saulo. E servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram" (Actos 13:1-3).

Ÿ Dos apóstolos Paulo e Barnabé é dito que "eleito anciãos em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido" (Actos 14:23).

Ÿ Paulo, antes de receber o Espírito Santo pela imposição das mãos de Ananias, ficou três dias sem comer e sem beber, e quando recebeu a visão em que viu Ananias entrar e impor-lhe as mãos para que ele recuperasse a vista, ele estava em oração.

Ÿ Cornélio, embora este episódio se refira ao tempo em que ainda não era salvo, estava orando e jejuando quando teve a visão do anjo que lhe disse para mandar chamar Pedro. Foi ele mesmo a dizê-lo a Pedro quando este veio ter com ele, de facto lhe disse: "Há quatro dias estava eu em jejum até esta hora, orando em minha casa à hora nona. E eis que diante de mim se apresentou um varão com vestes resplandecentes" (Actos 10:30).

Ÿ Paulo escreveu aos Coríntios: "Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração" (1 Cor. 7:5).

Como podeis constatar também vós, há diversas Escrituras que testificam que é justo jejuar e orar diante de Deus também hoje debaixo do novo concerto.

Podem-se ter visões enquanto se ora

Irmãos, ainda hoje, enquanto alguém ora a Deus, pode ser visitado por Deus e receber uma visão celestial. A Escritura  ensina-nos que diversos homens no passado, enquanto oravam, receberam visões.

Ÿ O profeta Daniel disse: "Enquanto estava eu ainda falando e orando, e confessando o meu pecado, e o pecado do meu povo Israel, e lançando a minha súplica perante a face do Senhor, meu Deus, pelo monte santo do meu Deus, sim enquanto estava eu ainda falando na oração, o varão Gabriel, que eu tinha visto na minha visão ao princípio, veio voando rapidamente, e tocou-me à hora da oblação da tarde. Ele me instruiu, e falou comigo, dizendo: Daniel, vim agora para dar-te entendimento. No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, pois és muito amado; considera, pois, a palavra e entende a visão!" (Dan. 9:20-23). Neste caso o profeta Daniel, viu o anjo Gabriel, que por ordem de Deus veio a ele para instruí-lo acerca de certas coisas.

Ÿ Jesus Cristo, o Filho de Deus, teve uma visão no Getsêmani, enquanto orava, de facto está escrito: "E pondo-se de joelhos, orava, dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua. E apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava" (Lucas 22:41-43). Neste caso Jesus foi consolado por Deus na sua agonia pela visão de um anjo.

Ÿ Saulo de Tarso teve uma visão enquanto orava em casa de Judas, na rua chamada Direita. A Escritura que testifica isto é a seguinte: "E havia em Damasco um certo discípulo chamado Ananias; e disse-lhe o Senhor em visão: Ananias! E ele respondeu: Eis-me aqui, Senhor. E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e vai à rua chamada Direita, e pergunta em casa de Judas por um homem de Tarso chamado Saulo; pois eis que ele está orando, e numa visão ele viu que entrava um homem chamado Ananias, e punha sobre ele a mão, para que tornasse a ver" (Actos 9:10-12). Deus fez ver a Saulo aquilo que aconteceria dalí a pouco; notai que Saulo quando teve aquela visão ainda não via com os seus olhos físicos, e que ele recebeu aquela visão ainda antes de ser batizado na água e com o Espírito Santo.

Ÿ Ainda Paulo teve uma outra visão enquanto orava; foi ele mesmo a contá-lo aos Judeus. Ele disse: "E aconteceu que, tornando eu para Jerusalém, quando orava no templo, fui arrebatado para fora de mim. E vi aquele que me dizia: Dá-te pressa e sai apressadamente de Jerusalém; porque não receberão o teu testemunho acerca de mim" (Actos 22:17,18).

Ÿ O apóstolo Pedro teve também ele uma visão enquanto orava; ele mesmo contou este particular episódio aos da circuncisão que o interrogaram porque tinha estado com homens incircuncisos e tinha comido com eles. Ele disse: "Estando eu orando na cidade de Jope, tive, num arrebatamento dos sentidos, uma visão; via um vaso, como um grande lençol que descia do céu e vinha até junto de mim. E, pondo nele os olhos, considerei, e vi animais da terra, quadrúpedes, e feras, e répteis e aves do céu" (Actos 11:5,6).

Ÿ Também Cornélio, o centurião, antes de ser salvo, teve uma visão enquanto orava. Ele disse a Simão Pedro: "Há quatro dias estava eu em jejum até esta hora, orando em minha casa à hora nona. E eis que diante de mim se apresentou um varão com vestes resplandecentes..." (Actos 10:30).

Orar de joelhos

A Palavra de Deus ensina-nos também acerca da posição a ter quando se ora. Com base no exemplo que nos deixaram Jesus, os apóstolos e os antigos profetas, a melhor posição a assumir quando se ora ou se busca a Deus é de joelhos. Agora, vos enumerarei algumas passagens da Escritura que dizem em que posição oraram os antigos profetas, Jesus Cristo o nosso Senhor, os apóstolos e os antigos discípulos.

Ÿ Lucas escreveu que Jesus, enquanto estava no Getsêmani, "pondo-se de joelhos, orava" (Lucas 22:41). Marcos, sobre a mesma circunstância, diz que Jesus "prostrou-se em terra e orou..." (Mar. 14:35), e Mateus que "prostrou-se sobre o seu rosto, orando..." (Mat. 26:39).

Ÿ O profeta Elias, quando "orou outra vez e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto" (Tiago 5:18), orou de joelhos, de facto está escrito: "Elias subiu ao cume do Carmelo, e se inclinou por terra; e meteu o seu rosto entre os seus joelhos..." (1 Re 18:42).

Ÿ O profeta Daniel orava a Deus de joelhos porque está escrito: "Havia no seu quarto janelas abertas da banda de Jerusalém, e três vezes no dia se punha de joelhos e orava, e dava graças, diante do seu Deus" (Dan. 6:10).

Ÿ O apóstolo Pedro, antes de ressuscitar Tabita, orou de joelhos, conforme está escrito: "Pedro, fazendo-as sair todas, pôs-se de joelhos e orou..." (Actos 9:40).

Ÿ O apóstolo Paulo orava pelos santos de joelhos, de facto escreveu aos santos de Éfeso: "Me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome, para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior" (Ef. 3:14-16); em Mileto, depois que ele falou aos anciãos da igreja de Éfeso, "pôs-se de joelhos, e orou com todos eles" (Actos 20:36); em Tiro, antes de partir para continuar a viagem juntamente com os seus cooperadores, ele e todos os que estavam com ele se puseram de joelhos e oraram, de facto está escrito: "Saímos, e seguimos o nosso caminho, acompanhando-nos todos, com suas mulheres e filhos até fora da cidade; e, postos de joelhos na praia, oramos..." (Actos 21:5).

Como podeis constatar por vós mesmos, Deus quis que fosse escrito também em que posição os antigos oraram. Eu sei que "tudo o que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito" (Rom. 15:4), e que "toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça" (2 Tim. 3:16), portanto também as passagens da Escritura que dizem respeito à posição que tiveram os antigos quando oravam são úteis ao nosso crescimento espiritual. Podeis porventura dizer o contrário? Eu, não ouso dizê-lo.

Alguns, não querendo se pôr de joelhos para orar quando a igreja está reunida, porque o consideram inútil e humilhante para eles mesmos, com palavras fingidas e persuasivas cobrem e defendem a sua soberba. Quais são estas palavras? Estas: ‘Mas  nós devemos dobrar os joelhos do coração e não os das pernas’, e: ‘Mas Deus também nos ouve se ficamos em pé ou sentados!’. Pelo que respeita à primeira expressão, digo-vos que se estes dobrassem ‘os joelhos do seu coração’ (como o chamam eles) dobrariam também os joelhos das suas pernas, mas como não os dobram, assim consequentemente não dobram tampouco os das pernas. Eu considero que quem é humilde de coração não tem dificuldade em dobrar os seus joelhos diante de Deus. Eu, por mim vi que alguns, como não querem humilhar-se diante de Deus, pondo-se de joelhos, tomam a palavra que Deus revelou a Samuel, que diz: "O Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração" (1 Sam. 16:7). Mas pensais que Jesus e os apóstolos não conheciam esta Escritura? Certamente que eles a conheciam, mas eles não a interpretaram ao seu agrado, como ao invés fazem alguns hoje. Esta Escritura não significa que para Deus não tem importância se nós não queremos orar de joelhos, porque doutra forma o Espírito Santo não diria: "Ó, vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do Senhor que nos criou" (Sal. 95:6). Mas considerai isto, por um momento, o Filho de Deus que antes da fundação do mundo estava no céu junto de seu Pai, quando veio a este mundo, orou a seu Pai de joelhos. João o Batista, falando do Cristo, disse: "Aquele que vem do céu é sobre todos" (João 3:31); ora, se aquele que é sobre todos orou de joelhos, quem somos nós, que vimos da terra e estamos debaixo dele, para não nos pormos de joelhos? Eu cheguei à conclusão que Deus para revelar a soberba que há nos corações de alguns que ostentam uma falsa humildade, quis que fossem escritas diversas coisas (que aparentemente não parecem ter muita importância), entre as quais justamente a de orar de joelhos. Hoje, em muitas igrejas se dizes que te agrada ter uma casa com piscina e um particular carro fora de série, e que estás orando a Deus para que te o conceda (isto é pedir mal, para gastar nos próprios deleites), és considerado humilde, cheio de fé em Deus, santo e justo, e és também respeitado; se ao invés dizes que te agrada orar de joelhos e que é boa coisa fazê-lo quando a igreja se reune, então és contrariado e contristado com toda a sorte de vãos e fingidos raciocínios, mal olhado e considerado alguém que provoca divisões na igreja. Ah! Se me parte o coração ao ouvir os soberbos que dos púlpitos falam de modo a fazer perceber que orar de joelhos é coisa que se adequa só aos crentes ‘beatos’ (assim eles chamam os crentes que temem a Deus e estremecem diante da sua palavra). Os soberbos nos seus corações se manifestam mais cedo ou mais tarde; não conseguem ter escondida a sua soberba nos seus corações, de facto quando chega o momento oportuno a tiram para fora. Os seus vãos discursos são aplaudidos por multidões de crentes que perderam o discernimento e que não querem também eles humilharem-se. Do ‘sucesso’ que conseguem ter estes faladores vãos sobre as multidões não há razão para nos admirarmos, porque, hoje, os que não querem mais dobrar os joelhos diante de Deus são um grandíssimo número (a maior parte).

Vos quero dizer porém, que muitos daqueles que não querem dobrar os joelhos diante de Deus, dobraram ‘os joelhos do seu coração’ (como o chamam eles) diante de Mamom e diante do ídolo, chamado ‘televisão’ que puseram em casa deles. Certo, Deus também nos ouve quando oramos em pé e sentados (nós já o experimentámos e o experimentamos ainda agora porque em algumas circunstâncias oramos em pé e sentados) e não podemos dizer o contrário; mas enquanto quem me o diz é alguém a quem faltam as pernas e os pés que Deus também o ouve sentado quando nos reunimos para orar eu o compreendo; mas quando me o diz um soberbo que tem duas pernas fortes e robustas, mas não quer dobrar os seus joelhos diante de Deus na presença dos fiéis então me entristeço por causa do seu orgulho.

Vos digo também isto: Há os que não conhecem Deus que não se envergonham de se pôr de joelhos diante de uma estátua e de suplicar-lhe, enquanto há alguns que conhecem Deus e se envergonham de dobrar os seus joelhos diante do Deus vivo e verdadeiro. Àqueles que não querem dobrar os joelhos quando oram, eu recordo que está escrito: "Pela minha vida, diz o Senhor, que todo o joelho se dobrará diante de mim..." (Rom. 14:11; Is. 45:23), e que "debaixo dele se encurvam os auxiliadores soberbos" (Jó 9:13), portanto não vos iludais, porque vem o dia que Deus vos fará dobrar os vossos joelhos diante da sua face.

Irmãos, humilhemo-nos debaixo da poderosa mão de Deus, assumindo também esta posição diante d`Ele; Ele é digno disso.

Onde orar

A tal propósito, é necessário dizer que nos é permitido orar em todo o lugar, porque está escrito: "Quero pois que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda" (1 Tim. 2:8); porém, guardemo-nos de fazer como os hipócritas, porque Jesus disse: "E quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão" (Mat. 6:5). Também os hipócritas oram nos lugares de oração e fora deles, mas com o único fim de serem vistos e honrados pelos homens. Qual é o seu galardão? O de serem vistos pelos homens.

Nós, na nossa vida privada, devemos retirar-nos a orar no nosso quarto porque Jesus disse: "Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará." (Mat. 6:6). O nosso Deus está em secreto e vê em secreto, por isso nós sabemos que é suficiente apenas ser vistos e ouvidos por ele para sermos atendidos. Nós experimentámos muitas vezes a veracidade das palavras de Cristo, porque depois de ter orado a Deus secretamente (sem fazer saber a nenhum ser humano o nosso específico pedido), fomos recompensados por Deus publicamente, obtendo diante dos outros aquilo que lhe tinhamos pedido apenas diante d`Ele.

Eis o que diz a Escritura a propósito dos lugares onde oraram Jesus, os antigos profetas, os apóstolos e os antigos crentes:

Ÿ Jesus "retirava-se para os desertos, e ali orava" (Lucas 5:16); em uma ocasião está dito que "tomou consigo a Pedro, a João, e a Tiago, e subiu ao monte a orar" (Lucas 9:28).

Ÿ O profeta Elias orou tanbém ele no monte.

Ÿ Moisés orou a Deus tanto no monte Sinai como também no deserto.

Ÿ Daniel orava a Deus na sua casa, tendo "no seu quarto janelas abertas da banda de Jerusalém" (Dan. 6:10).

Ÿ Os apóstolos e os discípulos, enquanto esperavam o cumprimento da promessa do Pai, oraram no que é chamado o cenáculo; eles oraram também no templo que estava em Jerusalém.

Ÿ Pedro, em Jope, orou no terraço da casa de Simão curtidor.

Ÿ Paulo e Silas oraram a Deus na prisão mais interna do cárcere de Filipos. Paulo várias vezes orou pelos santos da prisão.

Ÿ Paulo e os seus cooperadores, antes de deixar Tiro para continuar a sua viagem, oraram juntamente com os discípulos de Tiro na praia.

ŸPor último, irei citar o caso do profeta Jonas. Está escrito: "E orou Jonas ao Senhor, seu Deus, das entranhas do peixe" (Jonas 2:2).

Irmãos, todos estes exemplos, aqui supracitados confirmam que "os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos às suas orações" (1 Ped. 3:12; Sal. 34:15), onde quer que eles se encontrem. Nós crentes continuaremos a orar a Deus em todos os lugares, (sabemos que Ele está em todo o lugar, porque Deus disse: "Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja?.. Não encho eu o céu e a terra?" [Jer. 23:24]) levantando mãos puras, sem contendas e sem iras, porque isto é o que Deus quer de nós.

O homem deve orar com a cabeça descoberta, enquanto a mulher deve orar com a cabeça coberta por um véu

Paulo disse aos Coríntios: "Quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo. Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça. Mas toda a mulher que ora ou profetiza sem ter a cabeça coberta por um véu, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada. Porque se a mulher não se cobre com véu, corte os cabelos também. Mas, se para a mulher é coisa indecente cortar os cabelos  ou rapar-se, que ponha o véu. O homem pois não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem. Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. Por isso, a mulher, por causa dos anjos, deve ter sobre a cabeça um sinal da autoridade da qual depende. Todavia, no Senhor, nem a mulher é sem o homem, nem o homem sem a mulher. Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem existe por meio da mulher, e todas as coisas são por Deus. Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta? Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido? Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu. Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus" (1 Cor. 11:3-16). Paulo diz que a cabeça de todo o homem é Cristo e que o homem que ora com a cabeça coberta desonra Cristo, o que significa que o priva da honra que lhe é devida. Os anjos no céu dizem em grande voz: "Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e acções de graças" (Ap. 5:12); ora, como podeis ver, entre as coisas que Cristo é digno de receber está também a honra, portanto se um homem ora a Deus com a cabeça coberta por um chapéu ou por um véu, não dá a Cristo, que é a sua cabeça, a honra que lhe toca. O motivo pelo qual o homem não deve cobrir a cabeça é porque ele é a imagem e glória de Deus. Cuidai que Paulo não diz que se o homem ora com a cabeça coberta não faz nada de mal, porque mal faz; quem poderia dizer que desonrar Cristo não é mau? Só um homem privado de discernimento e contencioso poderia dizer uma tal coisa. No que diz respeito à mulher  ao invés, ela deve cobrir a cabeça porque é a glória do homem, tendo sido tirada do homem. Recordai-vos que quando Deus formou a mulher e a levou ao homem, Adão disse: "Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; ela será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada" (Gên. 2:23). Ora, a cabeça da mulher (seja da virgem, seja da mulher casada, e seja da viúva) é o homem; e se ela ora com a cabeça descoberta desonra o seu cabeça. Se a mulher não quer pôr o véu deve rapar a cabeça ou cortar os cabelos, mas como nós julgamos ser uma coisa indecente (ou vergonhosa) para uma mulher cortar os cabelos ou rapar a cabeça, nós lhe dizemos para pôr um véu sobre a cabeça. Mas o que representa o véu? O véu que a mulher deve pôr sobre a cabeça é "um sinal da autoridade da qual depende" (1 Cor. 11:10), que ela deve ter sobre a cabeça por causa dos anjos. Os anjos de Deus nos observam e devem ver sobre a cabeça da mulher um sinal da autoridade da qual depende, por isso se a mulher ora sem estar coberta por um véu, desonra o homem diante dos anjos, porque o priva da honra que lhe é devida. O amor não se comporta de modo inconveniente, portanto, o homem em cujo coração há caridade não fingida não cobrirá a sua cabeça quando orar para não desonrar Cristo; e por seu lado, também a mulher, em cujo coração mora o amor de Deus, se cobrirá com um véu, quando ora, a fim de não desonrar a sua cabeça, isto é, o homem. Certamente é, que se a mulher, em vez de amor, tem um espírito de contenda no seu coração, não quererá pôr sobre a sua cabeça este sinal de autoridade da qual depende. Hoje, na igreja, algumas mulheres em vez de se mostrarem submissas ao homem e reverentes para com ele, se mostram rebeldes e irreverentes, portanto não há porque nos admirarmos se elas não querem de modo nenhum cobrir a cabeça quando oram. Elas estão dispostas a pintar os cabelos, a mudar penteados, a pôr sobre a cabeça gel e laca para fixar os seus extravagantes penteados, mas o véu não estão dispostas de modo nenhum a pô-lo sobre as suas cabeças. Por qual razão? Pelo orgulho de ser mulher (assim o chamam aquelas do mundo) pelo qual se deixaram enganar. Hoje, nesta nação se vêem muitas mulheres, tanto na polícia como entre os militares, e muitas vezes, quando se encontram em serviço têm sobre as suas cabeças os seus chapéus. Ele é muito mais pesado que um simples véu, e elas não se envergonham de usá-lo, e se lhes perguntais porque o põem sobre a cabeça, vos dirão que o usam porque têm ordem de pô-lo sobre a cabeça. Em algumas igrejas ao invés sucede que algumas mulheres se envergonham de pôr o véu sobre as suas cabeças e dizem com muita arrogância que não querem pô-lo, opondo-se assim à ordem de Deus. Certo, o chapéu de uma polícia ou de uma militar fala de autoridade, enquanto o véu sobre a cabeça de uma crente fala de submissão à autoridade da qual depende, mas em ambos os casos é justo para elas pô-lo sobre a cabeça.

Algumas irmãs dizem: ‘Mas eu tenho cabelo crescido, portanto não preciso pôr o véu sobre a cabeça, porque ele é o meu véu ’. Escutai irmãs, o cabelo crescido que tendes é para vós uma honra, mas não é o véu com o qual deveis cobrir a cabeça, porque está escrito que o cabelo crescido à mulher "foi dado em lugar de véu" (1 Cor. 11:15).

À pergunta de Paulo: "É decente que a mulher ore a Deus descoberta?" (1 Cor. 11:13), nós respondemos que não é uma coisa decente que uma mulher ore a Deus descoberta.

Alguns dizem que a ordem sobre o véu divide as igrejas; mas se é assim então, precisaria mutilar uma das epístolas de Paulo! Mas eu sei que os mandamentos dos apóstolos são para a edificação da igreja e não para a sua destruição, portanto a razão pela qual acontecem estas chamadas ‘divisões’ nas igrejas  não está na ordem relativa ao véu, mas no coração de alguns homens e mulheres. Sabei que as disputas que nascem acerca da ordem do véu nascem da inveja e da contenda que albergam os corações daqueles que não se querem ater a esta ordem. Mas o facto é que falando com estes nos apercebemos que eles não mentem e não se gloriam só contra este mandamento, mas mentem e se gloriam também contra outros mandamentos de Deus. "Onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa" (Tiago 3:16), diz Tiago, por isso a vida destes é desordenada e cheia de más acções, porque são contenciosos e contradizem a verdade. Aquele sobre o véu é só um entre tantos mandamentos que eles não querem observar porque eles têm sempre algo a dizer contra toda a sã doutrina de Deus. Nada lhes está bem; teriam preferido que certas coisas os apóstolos não as tivessem escrito! Certo, este mandamento não é um dos maiores mandamentos, mas é ainda um mandamento que foi dado pelo mesmo homem que falava em outras línguas mais do que todos os Coríntios, através do qual Deus fez milagres extraordinários, e que escreveu a maior parte das epístolas do Novo Testamento. Vos exorto, ó Filhas de Sara, a orar com a cabeça coberta por um véu (não só no local de culto, mas em todo o lugar onde orais), e a não serem contenciosas, porque isso não vos levaria a nada. A alguém agrada ser contencioso? Saiba esse tal ou essa tal que "nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus" (1 Cor. 11:16).

É lícito chorar quando se ora 

Quando, algumas vezes, nós choramos durante a oração, não fazemos algo que Deus desgosta. Encontro-me obrigado a escrever-vos também sobre isto, porque alguns dizem que Deus não quer que nós choremos quando oramos. A Escritura nos fala de diversas orações feitas chorando.

Ÿ Ana, quando pediu a Deus um filho macho, "orou ao Senhor, e chorou abundantemente" (1 Sam. 1:10), porque tinha a sua alma cheia de amargura.

Ÿ Esdras, quando ouviu dizer que os filhos de Israel regressados do cativeiro se tinham casado com mulheres estrangeiras, orou chorando, confessando ao Senhor as iniquidades do povo. A Escritura diz a propósito desta circunstância: "Enquanto Esdras orava e fazia confissão, chorando e prostrando-se diante da casa de Deus, ajuntou-se a ele, de Israel, uma grande congregação de homens, mulheres, e crianças; pois o povo chorava amargamente" (Esd. 10:1).

Ÿ O rei Ezequias orou e chorou diante de Deus. A Escritura diz: "Naqueles dias Ezequias adoeceu duma enfermidade mortal, e veio a ele Isaías, filho de Amoz, o profeta, e lhe disse: Assim diz o Senhor: Põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás. Então virou Ezequias o seu rosto para a parede, e orou ao Senhor, e disse: Ah! Senhor, lembra-te, peço-te, de que andei diante de ti em verdade, e com coração perfeito, e fiz o que era reto aos teus olhos. E chorou Ezequias muitíssimo. Sucedeu pois que, não havendo Isaías ainda saído do meio do pátio, veio a ele a palavra do Senhor, dizendo: Volta, e dize a Ezequias, chefe do meu povo: Assim diz o Senhor Deus de teu pai Davi: Ouvi a tua oração, e vi as tuas lágrimas. Eis que eu te sararei; ao terceiro dia subirás à casa do Senhor...." (Is. 38:1-3; 2 Re 20:4,5). Como podeis ver, Deus disse a Ezequias que não só tinha ouvido a sua oração, mas tinha visto também as suas lágrimas.

Ÿ Jesus, na terra, orou a Deus chorando, de facto está escrito na epístola aos Hebreus que Ele, "nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia. Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu.." (Hebr. 5:7,8).

Irmãos, é boa coisa derramar o coração diante de Deus, chorando. Há momentos, enquanto se ora, em que o Espírito de Deus nos recorda que nada somos, e que tudo o que podemos fazer para o Senhor o podemos fazer pela graça de Deus que está conosco e não em virtude de uma qualquer nossa capacidade; o Espírito de Deus nos recorda também, enquanto oramos, os pecados que nós cometemos para fazê-los confessar ao Senhor; Ele, na nossa angústia, nos recorda que só Deus pode libertar-nos dela; por esta razão, nós, algumas vezes, como pequenas crianças recém nascidas, nos pomos a chorar diante a Deus. Deus faz caso também das lágrimas, que nas dores, nós derramamos diante de si, de facto está escrito nos salmos: "Tu contas as minhas vagueações; recolhes as minhas lágrimas nos teus odres; não estão elas no teu livro?" (Sal. 56:8) Quero dizer-vos algo a respeito: hoje, no meio do povo de Deus, se vêem gracejos, zombarias, risadas por coisas de nada (também durante o culto); crentes que choram quando oram, porque reconhecem as suas falhas e as confessam a Deus, deles não se vêem com frequência, e os poucos que, movidos pelo Espírito, choram, são ridicularizados. Porque acontece isto? Porque se vive numa nação onde abundam muitos bens materiais, e onde existe muita liberdade de professar a própria fé, que assim muitos, tendo enriquecido e se tendo inchado de orgulho, se esqueceram do Senhor. Não sentem mais necessidade de se humilharem diante de Deus, porque pensam ter tudo e de não precisarem de nada. Tiago diz aos que se tornaram amigos do mundo: "Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará" (Tiago 4:8-10). Dilectos, é tempo de buscar o Senhor com todo o coração, é tempo de lançar para longe de vós toda a falsa alegria e todo o falso sorriso, para afligir as vossas almas perante Deus. Entristecei-vos também vós por causa da corrupção, da mundanidade e da falsidade que há no meio da igreja, chorai também vós perante Deus; confessemos a Ele as nossas iniquidades e abandonemo-las, invoquemo-lo em verdade, e Ele fará aparecer sobre nós a sua glória, como a fez aparecer antigamente sobre Israel quando este se humilhou perante a sua face.

A perseverança na oração

Paulo disse aos santos de Roma "perseverai na oração" (Rom. 12:12); aos santos de Colossos, o mesmo apóstolo, escreveu: "Perseverai em oração" (Col. 4:2), e aos de Tessalónica: "Orai sem cessar" (1 Tess. 5:17). Ele mesmo nos deixou o exemplo também nisto porque ele orava dia e noite e porque ele se lembrava de todos os santos em todas as suas orações. As Escrituras que confirmam isso são as seguintes:

Ÿ Aos santos de Roma ele disse: "Incessantemente faço menção de vós, pedindo sempre em minhas orações " (Rom. 1:9)

Ÿ Aos santos de Éfeso ele escreveu: "Não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações..." (Ef. 1:15,16)

Ÿ Aos santos de Filipos ele escreveu: "Fazendo sempre com alegria oração por vós em todas as minhas súplicas..." (Fil. 1:4)

Ÿ Aos santos de Colossos que não tinham visto o seu rosto ele escreveu: "Graças damos a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, orando sempre por vós..." (Col. 1:3)

Ÿ Aos santos de Tessalónica ele escreveu: "Pelo que também rogamos sempre por vós..." (2 Tess. 1:11)

Ÿ A Timóteo ele escreveu: "Dou graças a Deus, a quem desde os meus antepassados sirvo com uma consciência pura, de que sem cessar faço memória de ti nas minhas orações noite e dia.." (2 Tim. 1:3)

Das exortações de Paulo sobre orar sempre e do seu exemplo se entende claramente como é necessário orar continuamente por todos os santos sem parar, por isso façámo-lo, para a edificação da igreja de Deus.

Jesus Cristo, ainda antes de Paulo, exortou os seus discípulos a orar continuamente sem parar, e a tal propósito propôs-lhes uma parábola, que é a seguinte: "Havia numa cidade um certo juiz, que nem a Deus temia nem respeitava o homem. Havia também naquela mesma cidade uma certa viúva, e ia ter com ele, dizendo: Faz-me justiça contra o meu adversário. E por algum tempo não quis; mas depois disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens, todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte, e me importune muito. E disse o Senhor: Ouvi o que diz o injusto juiz. E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, será ele tardio para com eles? Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?" (Lucas 18:2-8). Esta viúva, embora tendo o direito de receber justiça deste juíz, por um certo tempo, não viu este seu pedido de justiça atendido, de facto está escrito que este juiz por um tempo não lhe quis fazer justiça.. Ora, se este juiz lhe tivesse feito justiça no primeiro dia que ela tinha ido ter com ele, certamente esta viúva não teria continuado a ir a ele e a dizer-lhe: ‘Faz-me justiça’, mas precisamente porque esta resposta do juíz não chegava, esta viúva continuou a ir a ele até o seu pedido ser ouvido. Vede irmãos, apesar de nós sermos os escolhidos de Deus que nos dirigimos nas nossas súplicas a Deus que "ama a justiça" (Sal. 33:5) e odeia a iniquidade, e que é irrepreensível quando julga, também, devemos reconhecer que a resposta a certas nossas orações não chega senão depois de muitos dias, a outros depois de muitos meses e a outros depois de muitos anos. O facto de Deus não atender certas nossas orações de imediato, ou no espaço de um curto tempo não é algo de estranho que nos acontece, portanto, não vos maravilheis se algumas vossas orações não foram ainda atendidas por Deus. Sabei que Deus se reserva a responder-vos no tempo estabelecido por Ele, que, devemos reconhecer por experiência, é sempre o melhor. A Escritura diz: "Cheguemos pois com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno" (Hebr. 4:16); isso significa que Deus nos ajuda no meio de qualquer que seja a nossa necessidade, no tempo oportuno, nunca atrasado e nunca antecipado. O nosso Deus não é um Deus descuidado, e nenhum evento terreno ou celestial é capaz de distraí-lo; Ele governa o universo, por isso todas as coisas que nos acontecem, incluindo todas as variadas angústias nas quais nos venhamos a encontrar, estão sob o seu controle. Nós, algumas vezes, vendo prolongar-se os dias, somos tentados a pensar que Deus perdeu o controle da situação em que nos encontramos, mas de facto está que este pensamento é vão e nocivo, e não corresponde de modo nenhum à verdade. Nós, por experiência, podemos dizer que depois que Deus nos ouviu vimos que mesmo naqueles momentos em que o inimigo queria fazer-nos duvidar da fidelidade de Deus, digo, mesmo naqueles momentos, Deus tomava conta de nós (como sempre) não nos respondendo ainda. Alguém dirá: Mas que estás dizendo? Que Deus, quando não nos responde quando nós queremos nos mostra que Ele toma conta de nós? Sim, isso mesmo, de facto digo-vos por experiência que Deus no curso dos anos manifestou o seu amor por mim, não me respondendo no tempo que eu queria ou que pensava que faria. Eu não blasfemo o meu Deus porque Ele me obriga a esperá-lo com paciência (derramando muitas lágrimas também), antes o glorifico por causa de tudo isso. Se Deus nos devesse responder quando queremos nós, não só resultaria ser um Deus às nossas ordens, mas também um Deus imprudente. Eu posso dizer que se Deus respondesse quando queremos nós, destruiria com as suas mãos a sua obra, mas graças damos ao seu glorioso nome porque Ele, no curso dos séculos não mudou; Ele continua a dizer-nos: "Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos...Assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos" (Is. 55:8,9). Deus, neste momento está pensando quando nos responderá; na sua mente Ele sabe qual é o minuto, a hora, o dia, o mês e o ano em que nós receberemos d`Ele aquilo que lhe estamos pedindo. O facto é que enquanto ele sabe estas coisas, nós não as sabemos, e todas as vezes que pensámos que Deus responderia no tempo fixado por nós nos enganámos. Recordai-vos que Jesus disse para pedir, mas não disse quanto tempo depois nos será dado o que pedimos; Ele disse: "Pedi, e dar-se-vos-á" (Mat. 7:7). Nós, o que devemos fazer é pedir; depois,  a responder-nos pertence a Deus, Ele sabe como fazer e quando fazê-lo, melhor do que quanto nós podemos imaginar. Uma coisa é certa; o que lhe pedimos nos será dado, se não duvidarmos em nosso coração. Quando? Quando Deus quiser; eu não me preocupo ao ver passar algumas vezes longos períodos de tempo sem resposta de Deus! Para mostrar-vos como Deus responde às nossas súplicas quando Ele o considera oportuno vos mencionarei alguns exemplos tirados das Escrituras.

Ÿ A Escritura diz: "E era Isaque da idade de quarenta anos, quando tomou a Rebeca, filha de Betuel, arameu de Padã - Arã, irmã de Labão arameu, por sua mulher. E Isaque orou instantemente ao Senhor por sua mulher, porquanto era estéril; e o Senhor ouviu as suas orações, e Rebeca sua mulher concebeu...E cumprindo-se os seus dias para dar à luz, eis gêmeos no seu ventre... E Isaque tinha sessenta anos quando Rebeca os deu à luz" (Gên. 25:20,21,24,26). Quando Isaque se apercebeu que Rebeca era estéril, orou de pronto a Deus, e lhe orou com insistência (‘instantemente’ significa com insistência), e Deus o ouviu; mas quanto tempo depois de Rebeca se ter tornado sua mulher, ela teve os dois gémeos? A Escritura diz que foi vinte anos depois. Alguém dirá: ‘Mas porque é que Deus não respondeu antes? Porque isso não entrava na sua vontade; Ele quis que Rebeca tivesse aqueles dois gémeos vinte anos depois de estar casada com Isaque e não antes. E quem ousa dizer-lhe: ‘Tu fizeste mal?’.

Ÿ Depois que Jerusalém foi dada por Deus nas mãos do exército dos Caldeus, e que muitos Judeus foram levados em cativeiro para Babilónia, aconteceu este episódio que está escrito no livro do profeta Jeremias. "Então chegaram todos os príncipes dos exércitos, e Joanã, filho de Careá, e Jezanias, filho de Hosaías, e todo o povo, desde o menor até ao maior, e disseram a Jeremias, o profeta: Caia agora a nossa súplica diante de ti, e roga por nós ao Senhor teu Deus, por todo este resto; porque de muitos restamos uns poucos, como vêem os teus olhos; para que o Senhor teu Deus nos ensine o caminho por onde havemos de andar e aquilo que havemos de fazer. E disse-lhes Jeremias, o profeta: Eu vos ouvi; eis que orarei ao Senhor vosso Deus conforme as vossas palavras; e seja o que for que o Senhor vos responder, eu vo-lo declararei; não vos ocultarei nada" (Jer. 42:1-4). Jeremias orou a Deus pelo povo como tinha dito, e "ao fim de dez dias veio a palavra do Senhor a Jeremias" (Jer. 42:7), o qual chamou o povo e lhes a referiu. Neste caso, o profeta Jeremias recebeu a resposta de Deus dez dias depois de ter começado a orar. Deus tinha dito a Jeremias: "Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e impenetráveis, que não sabes" (Jer. 33:3), e Jeremias clamou a Deus, e Deus lhe respondeu, mas no tempo fixado por Ele.

Ÿ No livro do profeta Daniel é narrado este episódio que nos mostra por que motivo,  numa ocasião, a resposta de Deus chegou a Daniel só depois de um certo número de dias de que ele o invocou. Está escrito: "Naqueles dias (no terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia), eu, Daniel, estive triste por três semanas completas. Manjar desejável não comi, nem carne nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com unguento, até que se cumpriram as três semanas. E no dia vinte e quatro do primeiro mês, eu estava à borda do grande rio Hidequel, e levantei os meus olhos, e olhei, e vi um homem vestido de linho, e os seus lombos cingidos com ouro fino de Ufaz. E o seu corpo era como turquesa, e o seu rosto parecia um relâmpago, e os seus olhos como tochas de fogo, e os seus braços e os seus pés como cor de bronze açacalado, e a voz das suas palavras como a voz duma multidão..E me disse: Daniel, homem mui desejado, está atento às palavras que te vou dizer, e levanta-te sobre os teus pés; porque eis que te sou enviado. E, falando ele comigo esta palavra, eu estava tremendo. Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia, em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras, e eu vim por causa das tuas palavras. Mas o príncipe do reino da Pérsia se pôs defronte de mim vinte e um dias, e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da Pérsia. Agora vim, para fazer-te entender o que há de acontecer ao teu povo nos derradeios dias; porque a visão é ainda para muitos dias" (Dan. 10:2-6; 11-14). Como podeis ver por vós mesmos, o homem vestido de linho que apareceu a Daniel, se lhe apresentou vinte e um dias depois que ele tinha começado a orar e a se lamentar diante de Deus. As palavras de Daniel foram escutadas por Deus, desde o primeiro dia em que ele aplicou o seu coração a compreender e a humilhar-se perante Deus, mas a resposta chegou vinte e um dias depois. O motivo? O disse o mesmo homem de Deus a Daniel nestes termos: "Mas o príncipe do reino da Pérsia se pôs defronte de mim vinte e um dias" (Dan. 10:13). Ora, mas quem era este príncipe do reino da Pérsia? Ele não era o rei Ciro que reinava sobre a Pérsia naquele tempo, mas um ser espiritual mau que vivia nos lugares celestiais e que exercitava um domínio sobre o reino da Pérsia. Recordai-vos irmãos que quando nós oramos, nos lugares celestiais, se desencadeiam batalhas entre os santos e poderosos anjos de Deus e todas as criaturas celestiais que estão debaixo do poder de Satanás, que são os nossos inimigos. Paulo, falando aos Efésios, disse: "Não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, que estão nos lugares celestiais" (Ef. 6:12); estes seres nomeados por Paulo são as diversas categorias de seres maus que exercitam uma influência maléfica sobre os habitantes da terra. Satanás estabeleceu sobre todas as nações da terra os seus ministros para impedir aos santos de cumprir a vontade de Deus na terra. Ele é o príncipe deste mundo e o domina em todo o lugar, e este domínio o exercita servindo-se destas categorias de maus espíritos que Paulo elencou na epístola aos Éfesios; esta é a razão pela qual os homens são dados ao mal e pelo qual o Evangelho e os que o anunciam encontram grande oposição neste mundo. No caso de Daniel aqui referido, o príncipe do reino da Pérsia opôs-se a um mensageiro de Deus que Deus tinha enviado a Daniel para lhe levar uma particular mensagem, mas ele não conseguiu fazer com que o mensageiro de Deus não chegasse a Daniel porque Miguel (o arcanjo Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos de Israel) veio em ajuda do mensageiro de Deus. Quando nós oramos a Deus, Ele escuta as nossas súplicas, mas não deveis desprezar o facto de também os nossos inimigos nos escutarem quando falamos a Deus, e eles não querem nem que Deus nos atenda e nem que nós perseveremos na oração, por isso tentam de todas as maneiras opor-se a nós e a Deus. Mas Deus disse: "Operando eu, quem impedirá?" (Is. 43:13); dilectos, o diabo e todos os seus anjos não podem impedir Deus de cumprir um seu desígnio e de ouvir as fervorosas orações que nós lhe enviamos, por isso vos encorajo a continuar a orar.

Ÿ Nas Escrituras do novo concerto irei tomar uma específica oração de Paulo, para vos fazer compreender como Deus responde a certas orações também alguns anos depois. Paulo enviou a sua epístola aos Romanos enquanto se encontrava em viagem de regresso a Jerusalém para levar uma colecta destinada a socorrer os pobres dentre os santos. Nesta sua epístola, Paulo disse aos santos de Roma: "Deus, a quem sirvo em meu espírito, anunciando o Evangelho de seu Filho, me é testemunha de como incessantemente faço menção de vós, pedindo sempre em minhas orações que nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa acasião de ir ter convosco. Porque desejo ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que sejais confortados; ou melhor, para que quando estiver entre vós nos confortemos mutuamente pela fé que temos em comum, vós e eu" (Rom. 1:9-12). Ora, Paulo não disse exactamente por quanto tempo orava a Deus neste sentido, porém sabemos que orava a Deus para lhe dar uma ocasião propícia para poder ver os fiéis de Roma há muitos anos, porque ainda aos Romanos (perto do fim da carta) disse-lhes que já há muitos anos tinha grande desejo de ir ter com eles. Paulo, depois, que dirigiu aos santos de Roma aquelas palavras, teve que esperar mais de dois anos, antes de ver a sua oração e o seu desejo atendidos. Isto o dizemos porque quando Paulo chegou a Jerusalém (da viagem que o tinha levado à Asia, Macedónia e Acaia) foi preso e mantido recluso nas prisões da autoridade romana  por cerca de dois anos, antes de ser enviado a Roma diante de César. Segundo aquilo que diz Lucas a respeito destas coisas, Paulo foi preso em Jerusalém enquanto era governador Félix (cerca de dois anos antes que Félix deixasse o posto a Pórcio Festo) e mantido na prisão por um certo tempo também pelo governador Festo, antes de ser enviado a Roma. A passagem da Escritura que confirma isso é a seguinte: "Mas, passados dois anos, Félix teve por sucessor o Pórcio Festo; e, querendo Félix comprazer aos judeus, deixou Paulo preso" (Actos 24:27). Paulo, depois que compareceu diante do rei Agripa em Cesaréia, foi embarcado num navio juntamente com outros prisioneiros de volta a Itália. E depois de diversos meses deste embarque chegou a Roma, onde os irmãos, tendo notícias dele e dos seus cooperadores, vieram ao seu encontro até à Praça de Ápio e às Três Vendas; "e Paulo, vendo-os, deu graças a Deus e tomou ânimo" (Actos 28:15). Finalmente, depois de ter orado por anos a Deus para ver os fiéis de Roma, ele viu esta sua oração atendida, e por isso deu graças a Deus.

Irmãos, perseverai na oração; mesmo se estais orando para obter de Deus qualquer coisa há dias, meses ou anos, não pareis, não penseis que Deus não tenha escutado o vosso clamor, porque Ele o escutou desde o primeiro dia que o haveis invocado a respeito de uma determinada coisa; Ele se reserva a responder-vos no momento por Ele fixado, mas vos responderá. "Ó vós, os que fazeis lembrar ao Senhor, não descanseis, e não lhe deis a ele descanso..." (Is. 62:6,7), até que Ele não vos responda; sim, dilectos, continuai a insistir junto do trono de Deus, sem parar, porque de certo ele, também pela vossa importunação, se levantará e vos dará o que lhe haveis pedido. A Deus seja a glória eternamente. Amen.

As acções de graças devidas a Deus

Irmãos, quando nós oramos não devemos nos esquecer de dar graças ao nosso Deus. O apóstolo Paulo nas suas epístolas exortou diversas vezes a orar a Deus e a dar-lhe graças:

Ÿ Aos Filipenses escreveu: "As vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplicas, com acção de graças " (Fil. 4:6)

Ÿ Aos Colossenses escreveu: "Perseverai em oração, velando nela com acção de graças" (Col. 4:2)

Ÿ Aos Tessalonicenses, logo depois de ter dito: "Orai sem cessar" (1 Tess. 5:17), disse-lhes: "Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco" (1 Tess. 5:18).

Ÿ A Timóteo escreveu que queria que se fizesse "deprecações, orações, intercessões, e acções de graças, por todos os homens.." (1 Tim. 2:1).

Considero dever citar uma coisa que está escrito a propósito do profeta Daniel, a fim de confirmar como é coisa aceitável diante de Deus orar e dar graças a Deus ao mesmo tempo. Está escrito que Daniel tendo "no seu quarto janelas abertas da banda de Jerusalém, três vezes no dia se punha de joelhos e orava, e dava graças, diante do seu Deus..." (Dan. 6:10).

Também no que diz respeito a dar graças a Deus, é preciso saber por que coisa devemos fazer acções de graças a Deus. Antes de tudo quero dizer-vos que cada um de nós tem muitas e muitas coisas por que dar graças a Deus e que nenhum de nós pode dizer não saber por que coisa deve dar graças a Deus; e depois que Paulo e os seus cooperadores nos deixaram um exemplo também nisto para que aprendamos por eles. Lendo as epístolas de Paulo nos apercebemos que ele e os seus cooperadores davam graças a Deus sempre e por muitas coisas; agora vos citarei estas suas palavras de acções de graças que foram transcritas para nosso ensinamento:

Ÿ Aos Romanos disse: "Primeiramente dou graças ao meu Deus por Jesus Cristo, acerca de vós todos, porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé" (Rom. 1:8), e também: "Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues. E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça" (Rom. 6:17,18).

Ÿ Aos Coríntios escreveu: "Sempre dou graças ao meu Deus por vós pela graça de Deus que vos foi dada em Jesus Cristo; porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento, (como foi mesmo o testemunho de Cristo confirmado entre vós...Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo...E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento...Mas, graças a Deus, que pôs a mesma solicitude por vós no coração de Tito..Graças a Deus pois pelo seu dom inefável!" (1 Cor. 1:4-6; 15:57; 2 Cor. 2:14; 8:16; 9:15).

Ÿ Aos Éfesios escreveu: "Pelo que, ouvindo eu também a fé que entre vós há no Senhor Jesus, e o vosso amor para com todos os santos, não cesso de dar graças a Deus por vós..." (Ef. 1:15)

Ÿ Aos Filipenses escreveu: "Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós..." (Fil. 1:3)

Ÿ Aos Colossenses escreveu: "Graças damos a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, nas continuas orações que fazemos por vós..." (Col. 1:3)

Ÿ Aos Tessalonicenses escreveu: "Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações...Sempre devemos, irmãos, dar graças a Deus por vós, como é de razão, porque a vossa fé cresce muitíssimo e o amor de cada um de vós aumenta de uns para com os outros...Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação...Pelo que também damos sem cessar graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus..." (1 Tess. 1:2; 2 Tess. 1:3; 2:13; 1 Tess. 2:13).

Ÿ A Filemom escreveu: "Graças dou ao meu Deus, lembrando-me sempre de ti nas minhas orações, já que ouço falar do amor e da fé que tens para com o Senhor Jesus e para com todos os santos..." (Filem. 4,5)

Lendo todas estas palavras de acções de graças de Paulo e dos seus cooperadores se percebe como eles davam graças a Deus sempre e não só quando oravam.

Ora, irmãos, é necessário que nós aprendemos a dar sempre graças a Deus como faziam ao apóstolos, portanto seja quando oramos ou quando não estamos a orar. Mas  o que tenho mesmo que dizer é que nós devemos dar graças a Deus pelas coisas pelas quais davam graças os apóstolos; nós, algumas vezes, enquanto oramos nos limitamos a dizer a Deus: ‘Senhor, graças por tudo’, o que é justo fazê-lo, mas segundo o exemplo que temos nos apóstolos, nós devemos dar graças a Deus especificando as pessoas e as coisas pelas quais damos graças. Não temos tempo para fazê-lo porventura? De modo nenhum, porque tempo o temos durante o dia inteiro. Vede, não é o tempo que falta, mas a vontade de fazê-lo em alguns casos, porque, muitas vezes, ou se subvaloriza o agradecimento feito a Deus, ou porque o tempo é gasto falando de coisas que não contribuem para a edificação mútua. Paulo disse: "Como convém a santos, nem a fornicação, nem alguma impureza, nem avareza, seja nem ainda nomeada entre vós; nem desonestidade, nem zombaria, nem gracejos indecentes, que são coisas inconvenientes; mas antes acções de graças" (Ef. 5:3,4); considerando esta exortação de Paulo, é preciso concluir que (é triste dizê-lo e constatá-lo) é mais frequente ouvir falar de coisas inconvenientes que não se devem nem sequer nomiar, que dar graças a Deus em Cristo por todas as coisas.

A carência de acções de graças é indice de falta de gratidão para com Deus: hoje, muitos dão todas as coisas por descontadas e por coisas que lhe são devidas, enquanto não é assim, porque tudo o que temos vem de Deus, conforme está escrito: "Porque tudo vem de ti..." (1 Crón. 29:14). Não façamos como aqueles nove dentre os dez leprosos que foram curados por Jesus, que não voltaram ao Senhor para dar-lhe graças depois que viram que foram curados pela sua palavra. Imitemos ao invés aquele Samaritano que quando viu que a sua lepra tinha desaparecido, voltou atrás ao Senhor Jesus, glorificando a Deus em alta voz, "e caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças" (Lucas 17:16).

Nós filhos de Deus devemos dar graças por tudo; agora vos mencionarei algumas das coisas pelas quais nós estamos em obrigação de dar graças a Deus:

Ÿ Pelo seu dom inefável, a vida eterna, que Ele na sua graça nos deu gratuitamente

Ÿ Por ter-nos feito idóneos de participar da sorte dos santos na luz; façámo-lo com alegria 

Ÿ Por todos os seus benefícios para conosco; são muitíssimos, mas vale a pena mencioná-los quando se dá graças

Ÿ Pelo alimento, antes de começarmos a comer, porque isto é justo fazê-lo diante de Deus. Jesus o fez, conforme está escrito: "Tomou os cinco pães e os dois peixes, e, erguendo os olhos ao céu, deu graças; e partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos à multidão" (Mat. 14:19). Também Paulo deu graças a Deus pelo alimento diante de todos no navio, de facto está escrito: "Tomando o pão, deu graças a Deus na presença de todos; e, partindo-o, começou a comer" (Actos 27:35). Alguns homens privados da verdade e reprovados quanto à fé consideram não dever dar graças a Deus pelo pão de cada dia, porque eles dizem que o ganham com o seu suor, e que não é Deus que lhes o providenciou; ora, é verdade que Deus disse a Adão: "No suor do teu rosto, comerás o teu pão" (Gên. 3:19), mas é também verdade que aquele que dá o pão a nós mortais é Deus porque está escrito: "Faz crescer a erva para os animais, e a verdura para o serviço do homem para que tire da terra o alimento, e o vinho que alegra o coração do homem, e o azeite que faz reluzir o seu rosto, e o pão que fortalece o seu coração" (Sal. 104:14,15), e ainda: "Os olhos de todos esperam em ti, e tu lhes dás o seu mantimento a seu tempo" (Sal. 145:15). Paulo diz: "Porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com acção de graças. Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificada" (1 Tim. 4:4,5); estas palavras confirmam que antes de comer é justo orar a Deus dando-lhe graças, e o que nós comemos é também santificado pela oração e não só pela palavra de Deus. Não é esta mais uma confirmação do poder e da utilidade da oração?

Ÿ Pelos nossos irmãos; porque Ele os elegeu para a salvação desde o princípio; porque eles aceitaram a palavra de Cristo e a dos apóstolos como palavra de Deus e não como palavra de homens; pelo zelo que Ele pôs nos seus corações pela causa do Evangelho; pelos dons do Espírito Santo e pelos dons de ministério que Ele lhes conferiu; por como cresce a sua fé no Senhor e o seu amor para com os santos; pela liberdade com que participamos às necessidades dos pobres dentre os santos; por todos os benefícios que eles recebem das mãos de Deus, entre as quais estão as poderosas libertações que eles experimentaram nas suas angústias depois de ter invocado Deus.

Termino de escrever a respeito da oração dando graças a Deus em nome de nosso Senhor Jesus Cristo por ter-me dado a graça e a sabedoria necessária para pôr por escrito este ensinamento. A Ele seja a glória, agora e pela eternidade. Amen.

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